“O MUNDO DAS IDEIAS É UM TERRITÓRIO QUE NOSSA HUMANIDADE AINDA NÃO SABE EXPLORAR DIREITO, PORQUE O NORMAL É QUE A MENTE PAREÇA TER VIDA PRÓPRIA E PENSAR POR SI MESMA, EM VEZ DE O PENSADOR INTERIOR TER DOMÍNIO SOBRE ELA”
São palavras do astrólogo Oscar Quiroga. Fazem parte de uma das previsões do seu horóscopo, publicado na edição 20282 do jornal Correio Braziliense. A exemplo das anteriores (mensagens 097, 122, 149, 152, 153, 154, 196 e 212), desejo que também ensejem enriquecedoras reflexões para você, nesta jornada para o “autoconhecimento”.
Nesta mensagem, merece registro inicial o reconhecimento de que as neurociências têm intensificado estudos e pesquisas sobre a base neural da nossa “mente consciente”. Também peço a sua atenção para esta explicação de António Damásio, professor de neurociência da Universidade do Sul da Califórnia, feita no seu livro “Em busca de Espinosa”, lançado pela Editora Companhia Das Letras com adaptação de Laura Teixeira Motta para o português do Brasil:
– A mente existe porque há um corpo que lhe fornece os seus conteúdos básicos. Por outro lado, a mente desempenha variadas tarefas que são bem úteis para o corpo – o controle da execução de respostas automáticas em relação a um determinado fim, a antevisão e o planejamento de respostas novas, a criação das mais variadas circunstâncias e objetos cuja presença é benéfica para a sobrevida do corpo. As imagens que fluem na mente são o reflexo da interação entre o organismo e o ambiente, o reflexo de como as reações cerebrais ao ambiente afetam o corpo, o reflexo também de como as correlações da fisiologia do corpo estão acontecendo. (…) A descoberta de um nexo causal entre cérebro e mente e a descoberta de uma dependência da mente em relação ao cérebro constituem um progresso, é claro, mas devemos reconhecer que, por si só, não elucidam o problema mente-corpo de forma completa, e que, para que tal elucidação ocorra, precisam ser transpostos diversos obstáculos.
Cabe ainda destacar que na sua vinda ao Brasil, em junho de 2013, ao ser perguntado sobre o que é “mente”, António Damásio respondeu em entrevista concedida à Revista VEJA:
– Ela é uma sucessão de representações criadas através de sistemas visuais, auditivos, táteis e, muito frequentemente, das informações fornecidas pelo próprio corpo sobre o que está acontecendo com ele — quais músculos estão se contraindo, em que ritmo o coração está batendo e assim por diante. Em resumo: a mente é um filme sobre o que se passa no corpo e no mundo a sua volta.
Com estas considerações preliminares, pergunto:
– VOCÊ TEM O DOMÍNIO SOBRE A SUA MENTE?
Antes de responder, observe que Quiroga não afirma, mas apenas considera normal que “a mente pareça ter vida própria e pensar por si mesma, em vez de o pensador interior ter domínio sobre ela”.
Ora, segundo António Damásio, se existe “um nexo causal entre cérebro e mente”; se “a consciência é o processo que enriquece a mente com possibilidades”, entendo que as respostas para a pergunta acima variam de pessoa para pessoa. Mas todos nós temos condições de domínio, no sentido de “esvaziar a mente” por meio das conhecidas práticas meditativas de mindfulness. Acredito que semelhante eficácia para o resultado desse domínio, podemos alcançar pelo estado sensório e existencial de “mente presente”. A respeito, recomendo a leitura do interessante artigo da Doutora Michele Müller, publicado na edição 131 da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala. Dele,destaco o seguinte:
1.A observação atenta pode ser entendida como a capacidade de estar presente. A presença, em sua aparente simplicidade, guarda algo impalpável e abstrato que perseguimos com frequência nos lugares errados: “felicidade é estar presente”, como definiu o filósofo Alan Watts, um dos grandes difusores do pensamento asiático no mundo ocidental. Estar presente é o requisito para perceber a vida de forma plena e deixar-se maravilhar por ela.
2.Muito antes do termo mindfulness ganhar popularidade no Ocidente, a psicóloga e pesquisadora Ellen Langer, do Departamento de Psicologia da Universidade de Harvard, estudava o fenômeno da atenção plena. Quando a mente está presente, ela defende, nos tornarmos sensíveis ao contexto: o domínio da atenção é uma habilidade que como qualquer outra, precisa ser exercitada. Começa com a prática de perceber [acrescento: principalmente com a prática de perceber a si mesmo].
3.Trazer a mente para o presente envolve também o exercício da aceitação, outro conceito enraizado na filosofia oriental.
4.Devemos lembrar que qualquer pergunta que nos fazemos mentalmente vem com todos os tipos de possibilidades – tanto negativas quanto positivas. Criadas e alimentadas pela mente ausente, essas presunções estão quase sempre erradas. Errar nas positivas pode trazer uma enorme frustração. Errar nas negativas – sempre as mais comuns e acompanhadas de evidências que construímos com maestria – nos coloca em constante estado de preocupação.
Termino esta mensagem, com este belo “sentir” de Oscar Quiroga sobre “meditação”:
– Meditar é ansiar pelo infinito, conectar tua presença temporária à eternidade que é a intimidade indestrutível dos átomos de tua constituição, e na inefabilidade da Vida de tua vida. Enquanto não te dedicares com afinco e persistência a pensar além de ti, a meditação continuará sendo um esforço, que não é inútil, porque necessário, mas que não te renderá os frutos maravilhosos que pode te oferecer. Não é suficiente aquietar a mente, manter a espinha reta e a emoção sob domínio, nem tão pouco obteres visões místicas maravilhosas, tudo isso é muito bacana e desejável, mas não é meditar. Quando te tornares capaz de agir de forma impessoal, como agente da Vida, sem te importar se colhes ou não frutos de tuas ações, então e somente então começarás a meditar.
Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual.