(510) Sentindo o que podemos aprender com Sísifo.

Cada mudança, cada projeto novo causa espanto: Meu coração está espantado.

São palavras de Clarice Lispector (1920-1970), referindo-se, na minha avaliação, às consequências das “mudanças” em nossas realidades de vidas que, como entendo, refletem em nós mesmos, nos nossos modos de ser e de conviver com os outros. Existem “mudanças” que subjetivamente devem ser consideradas e pensadas por todos nós. Vejam o que já disseram sobre as “mudanças”:

– O líder espiritual Mahatma Gandhi – “Você tem que ser o espelho da mudança que está propondo. Se eu quero mudar o mundo, tenho que começar por mim.” , Cecília Meireles – “Eu não dei por esta mudança Tão simples, tão certa, tão fácil. Em que espelho Ficou perdida A minha face?” , Paulo Coelho – “Nunca podemos deixar que cada dia pareça igual ao anterior porque todos os dias são diferentes, porque estamos em constante processo de mudança.” , Gabriel García Marquez – “A verdade é que as primeiras mudanças são tão lentas que mal se notam, e a gente continua se vendo por dentro como sempre foi, mas de fora os outros reparam.” , Heráclito – “Nada é permanente, exceto a mudança.” , Immanuel Kant – “Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço.” e Chico Buarque – “As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem.”.

Agora vejam que interessante:

Ninguém muda outra pessoa mas, mediante diálogos realistas podemos em conjunto alcançar melhorias em nossos relacionamentos de convivências mútuas. Isto porque, somente nós somos “os donos de nós mesmos” e temos consciência do que precisamos e podemos mudar em nossas vidas conjuntas e em nós mesmos. Certo é que a realidade pode não se modificar, mas, mesmo assim, temos condições de conviver com ela de uma maneira mais proveitosa.

Conhecemos da mitologia grega a história de Sísifo, condenado pelos deuses a subir um morro carregando uma pedra pesada e, lá do topo desse morro, soltá-la abaixo para depois começar a fazer tudo de novo. Sísifo, simbolicamente, é a personificação do homem comum que todos nós conhecemos no nosso dia a dia, que não mudam muitas das suas ações e comportamentos de interações humanas. Para isso existem os “processos de autoavaliação”.
O filósofo Albert Canus (1913-1960), ensina que a verdadeira questão da existência humana é explicada por estas perguntas: – “O que fazer?”, “Continuar?”. Ou como diria o poeta João Cabral de Mello Neto (1920-1999) – “Pular da ponte da vida.”.

Sobre Sísifo, esclarece o doutor em Educação Histórica, Daniel Medeiro, que me inspirou para as considerações deste nosso encontro com suas anotações publicadas na edição 171 da Revista humanitas, da Editora Escala:

– “O que é preciso destacar é a razão pela qual os deuses puniram Sísifo. Ele era um rebelde que não aceitava a Morte, tendo-a enganado duas veze. Não acreditava na clarividência dos deuses, tendo-os enganado também. Ele era um mortal orgulhoso de sua inteligência e capacidade de criar seus próprios caminhos, desafiando o destino, as determinações, o controle dos deuses. Por isso, a ofensa e o castigo. Sísifo pagou para ver, desafiou e foi inigualável ao mirar a cara de Tânatos, de Hades, furiosos.
Albert Camus escreve um belo livro sobre esse personagem inigualável, afirmando que “toda a alegria silenciosa de Sísifo consiste nisso. Seu destino lhe pertence. A rocha é sua casa. Da mesma forma, o homem absurdo manda todos os ídolos se calarem quando contempla o seu tormento. No universo que repentinamente recuperou o silêncio, erguem-se milhares de vozes maravilhadas da Terra. (…) Quando a pedra deslizar e se perder lá embaixo, estaremos no alto do morro e seremos livres. Não será por muito tempo, mas será um tempo único e incrível. Depois, desceremos com o vento no rosto, sentindo as forças da natureza restaurando nosso cansaço. E será hora de encarar a pedra novamente, com a alegria de quem sabe o que está fazendo.”

Pensem nisso.

Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Publicado por

Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br

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