(295) Sentindo Edgar Morin, para criar a “realidade subjetiva” do nosso pós-pandemia.

“PANDEMIA DO CORONAVÍRUS E O ISOLAMENTO SOCIAL NOS IMPÕE DESCONSTRUÇÕES: A DESCONSTRUÇÃO DA CRENÇA EM VERDADES ABSOLUTAS NA CIÊNCIA, DA OBSTINAÇÃO POR GARANTIAS E CERTEZAS, E DA PESQUISA SEM CONTROVÉRSIAS.”
São palavras do sociólogo e filósofo francês Edgar Morin, em entrevista concedida ao jornal CNRS da França. Nesta jornada para o “autoconhecimento” é a segunda vez que a ela me reporto, por ter sido mais uma valiosa oportunidade de se conhecer a “essência subjetiva” das suas consistentes e primorosas análises. Como leitura complementar, sugiro a do nosso primeiro encontro (mensagem 286). Nesta oportunidade, acrescento e registro este meu sentimento: na condição privilegiada de seu seguidor (para mim, um dos pensadores mais influentes da atualidade), aprecio, me emociono e aprendo muito com o seu modo de transmitir “sabedoria interior” e experiências de vida. O subjetivo Edgar Morin, assim concebe a “subjetividade humana”:

– O INDIVÍDUO É A AUTOAFIRMAÇÃO DO “EU” DA SUBJETIVIDADE. OU SEJA, ONDE ELE É PLENAMENTE ELE MESMO.

No dia 8 do mês passado ele completou 99 anos de idade. Um ser iluminado e muito consciente da sua missão de querer mostrar a importância de serem por nós criadas as nossas “realidades subjetivas”. São elas que “despertam” em nós a necessidade de descobertas de “significados” para os nossos propósitos de vida, em qualquer circunstância do nosso existir (inclusive durante a pandemia – mensagem 290). Sei que são muitas, as minhas “realidades” ainda não alcançadas; conhecidas apenas pelo meu “imaginário”. Mas vou continuar com as minhas buscas, motivado por este expressivo “sentir de Platão (427 a.C):

– VIVEMOS NO MUNDO DO IRREAL ONDE TUDO O QUE VEMOS É SOMENTE UMA SOMBRA IMPERFEITA DE UMA REALIDADE MAIS PERFEITA.

O que me intuiu esta mensagem foi esta “percepção” de Edgar Morin, transmitida no seu livro “Conhecimento, Ignorância, Mistério”, recentemente lançado pela Editora Bertrand Brasil, com tradução de Clóvis Marques:

– SÓ PODEMOS APREENDER O REAL POR MEIO DAS REPRESENTAÇÕES E INTERPRETAÇÕES. A REALIDADE DO MUNDO EXTERIOR É UMA REALIDADE HUMANIZADA: NÃO A CONHECEMOS DIRETAMENTE, MAS POR MEIO DO NOSSO ESPÍRITO HUMANO, TRADUZIDA/RECONSTRUÍDA NÃO SÓ PELAS NOSSAS PERCEPÇÕES, COMO TAMBÉM PELA NOSSA LINGUAGEM, NOSSAS TEORIAS OU FILOSOFIAS, NOSSAS CULTURAS E SOCIEDADES. NESSA ÓTICA, NOSSOS SENTIMENTOS VIVIDOS, SUBJETIVOS, NOS PARECEM MAIS REAIS QUE TUDO. PARA NÓS, HUMANOS, A AFETIVIDADE, QUE É A PRÓPRIA SUBJETIVIDADE, É O NÚCLEO DURO DA NOSSA REALIDADE.

Maravilha. Maravilha. É apenas o que consigo dizer!

Realmente é fato incontroverso o reconhecimento de que o “real” não existe, sem a modelação interior das nossas percepções sensoriais. Além disso, as suas possíveis “representatividades cognitivas” também não serão a mesma para todos, porque, cada um de nós, tem a sua singularidade existencial e a de natureza espiritual. Talvez tenha sido por isso que na referida entrevista, Edgar Morin afirmou que ninguém conhece diretamente a realidade do mundo exterior, mas somente por meio do nosso “espírito”.

O que também despertou a minha atenção, foi Edgar Morin ter sustentado que os nossos “sentimentos vividos”, “subjetivos”, nos parecem mais reais que tudo (o que para mim, explica o comportamento de muitos que em determinadas circunstâncias se acham “os donos da verdade”). Em sintonia com esse entendimento de Edgar Morin, gosto do alcance conclusivo desta explicação da Doutora Daniela Benzecry, médica clínica e analista junguiana:

– A DEFINIÇÃO DO SENTIMENTO COMO ALGO SUBJETIVO APONTA PARA OUTRA CARACTERÍSTICA IMPORTANTE A RESPEITO DA FUNÇÃO SENTIMENTO: ELA REVELA ASPECTOS DO MUNDO ÍNTIMO DA PESSOA. O SENTIMENTO ESPELHA O MUNDO INTERNO DO INDIVÍDUO E, AO VISAR UMA ACEITAÇÃO OU REJEIÇÃO SUBJETIVA, É DETERMINANTE PARA ADAPTAÇÃO DO MUNDO INTERNO EM INTERAÇÃO COM O EXTERNO.

A doutora Daniela tocou em um ponto muito importante (infelizmente, ainda presente nesta pandemia), relacionado à experiência que enseja a escolha de opções pessoais de interações que envolvem um “conflito interior” de duas realidades (a individual e a coletiva). Refiro-me ao uso obrigatório de mascara, determinado com amparo legal pelas autoridades competentes. Explico: Na referida entrevista Edgar Morin manifestou o seu entendimento de que “os nossos sentimentos nos parecem mais reais que tudo” (realidade pessoal e subjetiva de cada indivíduo). No entanto, como entendo, nas simultâneas interconexões externas de interações coletivas e sociais, a decisão individual não usar mascara nunca pode se sobrepor à necessária e inquestionável de proteção da saúde de todos. Resumindo: Independente do nosso “querer” todos nós precisamos, com a prática das nossas ações, “RESPONSABILIDADE SOCIAL”.

Agora, peço a sua atenção para este precioso ensinamento de Edgar Morin, por ele manifestado muito antes desta pandemia:

– O DESTINO DA HUMANIDADE É DESCONHECIDO, MAS SABEMOS QUE O PROCESSO DE EXISTIR MODIFICA-SE.

Ora, sendo o nosso futuro uma “realidade ainda desconhecida”, de acordo o “sentir” de Edgar Morin todos nós devemos, ou precisamos, começar a construir mentalmente uma nossa nova e interior “realidade subjetiva” para nos fortalecer no nosso “pós-pandemia”. Foi o que também aprendi com este “pensar” de Fernando Pessoa (1888-1935):

– A VIDA É PARA NÓS O QUE CONCEBEMOS DELA.

Notas:

1.A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link, para os efeitos da Lei 9610/98, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
2.A citação da explicação da doutora Daniela Benzecry, foi reproduzida do seu livro “Sentimentos, valores e espiritualidade/Um caminho junguiano para o desenvolvimento espiritual”, lançado no Brasil pela Editora VOZES.
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Muita paz e harmonia espiritual.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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