(144) Sentindo a ajuda da Psicanálise, para o nosso bem-estar interior

Como foi antecipado em mensagens anteriores, neste espaço virtual estão sendo ampliados os enfoques das suas abordagens. Além das sugestivas buscas de “autoconhecimento”, também serão escolhidos (como já vem ocorrendo) temas que espelhem em todos os sentidos, as projeções sensórias do nosso “sentir interior”. Os últimos exemplos foram as mensagens sobre os sentimentos de “solidão” e de “liberdade”.

Certo é que em todas as dimensões do nosso “viver”, tudo se interage através das manifestações do nosso “sentir interior”, moldado pelo que “somos”, e não pelas imposições do nosso “pensar” e “querer”. Explico: O ser humano tem a sua “individualidade” definida, mas a sua “singularidade existencial” está subjetivamente determinada pela essência da sua “Sensibilidade da Alma”. Nós “somos” o que “sentimos ser”. Não, o que para todos “parecemos ser”. Nós somos o que temos consciência de “ser”, para nós mesmos. Esse “revelar interior” também é mostrado pelo nosso “silêncio”, pela nossa “expressão facial”, pelo nosso “olhar”, pelo nosso humanista “jeito de ser”…

Para esta mensagem, selecionei um exemplo de notória e reconhecida dedicação profissional. Refiro-me ao conceituado psicanalista e psiquiatra baiano, Doutor Aurélio de Souza. Da sua entrevista publicada na edição n. 46, Ano IV, da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala, destaco o seguinte:

1.Sobre a crítica da psicanalista francesa Elizabeth Roudinesco, no sentido de que o trabalho psiquiátrico se acomodou no receituário de drogas que acalmam os pacientes, sem curá-los.

Aurélio. Não concordo com muito que a Roudinesco diz, mas não discordo dela nesse ponto. Eu, por exemplo, jamais prescrevo um medicamento. Optei pela Psicanálise, que deve ser entendida como uma prática mais relacionada ao saber, do que relacionada à cura. A Psicanálise não é uma prática médica.

Complementa, em outras respostas:

Sou contra a utilização exacerbada de medicações. Alguns psiquiatras não parecem considerar importante entrevistar o paciente. Talvez porque acreditem que interferindo nos neurotransmissores dessa pessoa, se resolva a patologia dela. Mas é claro que aparecem pessoas que pedem uma análise em situação de risco – depois que se drogaram ou na fase em que estão propensas a cometer suicídio. Nesses casos é necessário ministrar algum tipo de medicamento.

Repito: como psicanalista eu não medico. A medicação adormece, e isso diminui a circulação dos pensamentos.

2.Sobre os calmantes que são absolutamente populares, em pacientes acometidos de depressão.

Aurélio. A depressão tem um componente somático. Quando trabalhamos com um paciente deprimido, temos que ir além de suas possibilidades orgânicas. Temos que desvendar seu comportamento à medida que ele vai tendo um problema no pensamento, e o medicamento diminui a mobilidade do pensamento. Isso interfere no que esse paciente poderia fazer e não faz.

3.Sobre a sua conduta clínica de gostar dizer que, ao receber o paciente, não faz anotações, não abre uma ficha para ter o histórico dele, algo comum em qualquer atendimento da área da Saúde.

Aurélio. É verdade. Não faço ficha. Meu paciente se constrói diante de mim a cada visita que me faz. O passado dele não me importa tanto quanto aquilo em que ele se afigura para mim hoje, no momento em que vou analisá-lo. Aliás, posso dizer aqui o que sempre coloco para os meus analisandos: quem analisa é o próprio analisando, aquele que procura a análise. Eu apenas sirvo como um facilitador, ou, se o senhor preferir, como um guia para as descobertas que o analisando faz. É nesse momento em que aparecem os pensamentos dos quais ele não tem consciência.

4. Sobre se o maior legado de Freud, foi revelar o que trazemos no fundo de nós.

Aurélio. Freud nos revelou o inconsciente, aquilo que trazemos em nosso interior. Nos chamou a atenção para o que está na parte mais profunda de uma pessoa. Ele foi genial ao conceitualizar o inconsciente. Lacan faz um deslocamento dessa noção. E mostra que tudo se estrutura como uma linguagem. A linguagem que eu uso para me expressar é reveladora de mim. E só de mim. Entretanto, para nós isso se apresenta como um grande problema, aliás fácil de se perceber, por exemplo, em casais. Em parceiros de 50 anos, ou de 10, ou de apenas 02 anos de convivência. É sempre a mesma coisa. Você entrevista um casal, e ele, ou ela, interrompe o parceiro antes que ele possa falar, exclamando: ‘Já sei o que você vai dizer!’

5. Sobre se acredita em alma gêmea, ou cara metade.

Aurélio. A minha alma gêmea é sempre um problema. Se buscamos a igualdade, mais cedo ou mais tarde fazemos uma luta mortal. Eu usaria outra expressão popular: ‘quem ama o feio, bonito lhe parece’. Eu preciso da diferença. À medida que eu estabeleço a relação amorosa, tendo a me aproximar, atribuindo ao parceiro coisas que ele não é.

6. Sobre algo que a análise é capaz de apontar.

Aurélio. A análise lhe permite descobrir o valor que o sofrimento tem para você. O analista é demandado porque muitas vezes o analisante quer ficar bom dos sintomas, mas não sabe fazer isso; não sabe como viver sem esse sofrimento.

7. Sobre o índice de recuperação da sua clientela.

Aurélio. Eu nunca medi isso, e nem sei se é possível fazê-lo. Tenho uma boa clientela; às vezes trabalho até aos sábados, e isso deve indicar alguma coisa. Mas o importante para o paciente é encontrar a condição possível de ter uma relação alegre com o inconsciente. Lacan nos falava em amar o inconsciente.

8. Sobre como consegue relaxar nas horas vagas.

Aurélio. Tenho sempre à mão cinco CDs do Pink Floyd, e mais de dez versões de uma música que gosto muito: “La Vie en Rose” (“A vida em cor-de-rosa”, letra de Edith Piaf e melodia de Louis Gugliemi; a canção foi lançada por Piaf em 1946). Se não estou ouvindo música, estou com minha família, ou nadando.

Termino esta mensagem, desejando que ela seja sugestiva de um referencial de “busca interior” que favoreça a “harmonização plena” com o nosso potencial de “realização existencial”, em todos os sentidos do nosso “viver”.

Notas:

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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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