(296) Sentindo, para o seu “pós-pandemia”, que já podemos modular a percepção dos nossos sentimentos (Parte I).

“SE VOCÊ AFIRMASSE QUE NÃO É CAPAZ DE NOTAR A SI MESMO NO ATO DE CONHECER, EU PODERIA ARGUMENTAR QUE, PRESTANDO MAIS ATENÇÃO, VOCÊ CONSEGUE.”
São palavras do neurocientista António Damásio, no seu livro “O mistério da Consciência – do corpo e das emoções ao conhecimento de si”, lançado no Brasil pela Editora Companhia Das Letras, com tradução de Laura Teixeira Motta. Foram escolhidas para iniciar esta vigésima mensagem da série sobre a pandemia da Covid-19 porque, decorridos seis meses, acredito que muitos de nós já temos melhores condições de fazer uma imersão subjetiva de “avaliação” e de “conhecimento” das nossas atuais condições de interações sensoriais e existenciais, com maior atenção para as fragilidades emocionais de superações em todos os sentidos desta nossa preocupante experiência de vida. Pela relevância dos temas e da necessidade de ser mantida uma padronização de espaço, esta mensagem será dividida em partes.

Todos nós passamos por um marcante processo de transformações interiores, muitas delas inconscientes. São mudanças que nos deixam preocupados, fragilizando-nos emocionalmente e podendo, inclusive, nos levar a estados depressivos, de estresse e ansiedades. Muitos dos nossos anseios de realizações pessoais foram adiados. Precisamos começar a idealizar e fortalecer o nosso futuro “pós-pandemia” com sentimentos e práticas permanentes de “VALORAÇÃO DAS NOSSAS VIDAS”, de “SOLIDARIEDADE SOCIAL”, de “UNIÃO”, de “IGUALDADE” e “RESPEITO À DIGNIDADE HUMANA”. Foi essa experiência de um novo “viver” que motivou esta mensagem. Nós somos responsáveis pelo renascer de uma nova realidade mais humanistas para todos nós. A Covid-19 não vai acabar as nossas “BUSCAS DE FELICIDADES”. Tenho pensado muito nestas partes da análise do médico e psicoterapeuta junguiano Carlos São Paulo, sobre o livro “7 Maneiras de Ser Feliz – Como Viver de Forma Plena”, do escritor e filósofo francês Luc Ferry, conhecido humanista e defensor de uma espiritualidade laica (que foram por mim numeradas):

1. [A obra de Luc Ferry], faz-nos um convite à reflexão para entendermos o quanto uma vida plena e gratificante depende de nosso amadurecimento. Trata-se da maturidade para saber que o mais importante não é o acontecimento em si, mas o que não conhecemos em nós mesmos, que nos faz reagir com tanto sofrimento, e a nossa capacidade em contemplar todos os lados dessa realidade.

2. Essa obra nos convida a reflexões a fim de que encontremos respostas para perguntas como: ser feliz é um estado em que nos encontramos ou uma forma de viver? Tem alguma receita para se conseguir? Existe alguma coisa que nos deixe satisfeitos de forma duradora? Como experimentar os acontecimentos em nossa vida sem que esses nos retirem o direito de ser feliz?

3. Possuímos um eu para nos relacionar com o mundo em volta e, também, com aquele outro mundo interno, criado a partir do que vai se organizando com nossas experiências, misturadas às respostas coordenadas pela nossa constituição biológica.

4. O mundo externo pode nos envolver em eventos que não atendem às nossas expectativas e nos conduzem a um estado de insatisfação muitas vezes desproporcional ao acontecimento. Essa insatisfação pode nos trazer um sofrimento maior do que deveria, caso não houvesse despertado experiências antigas, situadas em memórias emocionais que, embora sejam acontecimentos diferentes, guardam entre si alguma semelhança.

5. O mundo moderno disponibiliza processos psicoterapêuticos de insights que propiciam a possibilidade de compreendermos quando o sofrimento é neurótico (assim chamado aquele que altera a realidade por reagirmos de forma desproporcional aos acontecimentos) e nos ajuda a estabelecer essa relação com o eu mais profundo para percebermos que aquela infelicidade experimentada também aponta para oportunidades disfarçadas e nos lança a um nível de consciência mais acima.

6. Para Luc Ferry, a felicidade é, ao mesmo tempo, provisória e frágil. Não depende só de um trabalho sobre nós mesmos e de nossa eventual harmonia interior. Está amplamente ligada aos outros, em particular às pessoas que amamos. Não importa o que façamos, em algum dia estaremos separados daqueles que gostamos.

7. A busca contemporânea pela felicidade tem feito muitos leitores de sites e de obras de autoajuda, que mostram caminhos como se todos pudessem calçar o mesmo par de sapatos. Essas leituras cooperam com uma sociedade que nos cobra para vivermos sorrindo e satisfeitos. Muitos entendem que não podem mergulhar na relação com o seu eu mais profundo, para buscarem conviver com as dores e tomarem consciência de si, pois temem um rótulo de deprimidos. Esses, muitas vezes, são medicados sem participarem de um processo psicoterapêutico que os leve aos insights, ou procuram terapias “festivas”, que prometem mudanças com uma variedade de processos em que o indivíduo não toma consciência do que é preciso e, como mágica, tentam evitar a experiência da realidade, que é necessária a cada humano.

8. Quando a ilusão da felicidade aparece em uma sociedade nessa forma de tirania, somos levados a participar de um círculo vicioso em que a própria exigência de satisfação plena faz acentuar o mal-estar natural de experiências com o destino., que segue acontecendo sem obedecer aos desejos e planos. Esses esforços em ser feliz nos deixam infelizes, pois se tornam extenuantes. O que nos livra da angústia da existência é a lucidez.

9. Nessa obra de Luc Ferry, somos levados a uma reflexão sobre sete verbos:
amar, admirar, emancipar-se, ampliar os horizontes, aprender, cria e agir. Entendemos que o amor dá sentido à nossa vida. Pode nos deixar loucos de felicidade, mas também tristes e desesperados com a perda de alguém amado.

Termino a primeira parte desta mensagem, com esta síntese do pensamento de Immanuel Kant (1724-1804):

“NOSSA SENSIBILIDADE É A CAPACIDADE DE SENTIR AS COISAS DO MUNDO. NOSSO ENTENDIMENTO É A CAPACIDADE DE PENSAR SOBRE AS COISAS. UMA “COISA EM SI” (ALGO CONSIDERADO EXTERIOR À MENTE) PODE NÃO TER NADA A VER COM ESPAÇO, TEMPO OU QUALQUER UM DE NOSSOS CONCEITOS. EXISTEM DOIS MUNDOS: O MUNDO DA EXPERIÊNCIA SENTIDA POR NOSSOS CORPOS E O MUNDO DAS COISAS EM SI”.

Espero você, com a continuação desta mensagem.

Notas:
1.A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link, para os efeitos da Lei 9610/98, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
2.A citação da análise do doutor Carlos São Paulo, foi reproduzida da sua coluna “Divã literário”, publicada na Edição n. 167 da Revista PSIQUE, da Editora ESCALA. A síntese do pensamento do filósofo Immanuel Kant, do “O Livro da Filosofia”, publicado pela Editora GLOBO.
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Muita paz e harmonia espiritual.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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