“REPENSAR A VIDA PARA PODER REINVENTAR A VIDA. ESSA É A FORÇA QUE EMANA DO EU MAIOR”
São palavras do escritor e educador Mario Sergio Cortella, um dos meus preferidos filósofos contemporâneos. Foram escolhidas para iniciar esta mensagem, porque, no meu entender, também nos motiva a “sentir” a vida em sintonia de harmonização interior com as nossas necessidades subjetivas de integração do nosso “existir” com o nosso “viver”. Em outras palavras: porque também sugerem um repensar interior favorecido pela prática de “autoconhecimento”, que viabilize um processo existencial de ressignificação de nós com as nossas “vidas”. Nesse sentido, para esta mensagem, considero ser o “EU MAIOR” de Cortella o escutar de uma relação interior “consigo mesmo”, explicada pelo “Self” de Jung.
Sobre a “vida”, recomendo a leitura do livro “Vivemos mais! Vivemos bem? Por uma vida plena”, lançado no Brasil pela Editora Papirus 7 Mares. Foi escrito por Mario Sergio Cortella e Terezinha Azerêdo Rios, em forma de diálogo. Dele, destaco esta conclusiva análise de Cortella:
– Pois bem, a questão é que se faz necessário refletir sobre o tipo de vida que vale a pena viver e o tipo de vida que não vale a pena. A ideia de vida longa implica viver mais e viver bem. Mas, no meu entender, viver bem não é só chegar a uma idade mais avançada com qualidade material de vida. É também adquirir a capacidade de olhar a trajetória. Porque a vida não é só o agora, é o percurso. Ela é a soma de todos os momentos numa extensão de tempo. (…) Será que uma vida alienada – de alienado mesmo, considerado em seu sentido original, aquele que está fora de si mesmo -, uma vida que não seja consciente, na qual não se tenha a capacidade de escolha, não tenha a capacidade de intenção deliberada, resiste à grande pergunta: Minha vida me pertence? Sua vida lhe pertence?
Que bela reflexão de Cortella! Na sua avaliação (com a qual concordo), ele
expressa a nossa necessidade de vivenciar a passagem dos anos desenvolvendo a capacidade de “sentir” a vida como sendo o fluir de uma “trajetória”. Acrescento para esta mensagem: uma trajetória de permanentes e sucessivos “aprendizados” em que, muitos deles, são por nós desejados e outros não. Reforço, com este precioso ensinamento da psicóloga Ligia Py sobre a busca por valores essenciais relacionados à percepção da finitude da nossa existência:
– Somos todos aprendizes até o fim da vida. A aprendizagem é um processo contínuo de construção da nossa identidade, jamais concluída. Aprendemos com os outros, com a família, com os amigos, a escola, a rua, a mídia, a sociedade, a cultura e tanto mais. E aprendemos muito com as nossas experiências de sucesso e de fracasso. Nesse percurso, vamos nos construindo como pessoas, como seres de relação com os outros e podemos (ou não) cultivar uma competência existencial. Ou seja, uma competência para buscar valores essenciais para nós mesmos, para conviver com os demais, reconhecendo e quiçá valorizando as diferenças. E que estejamos abertos aos sonhos, às surpresas, empenhando-nos para nos recriar a cada vez que sucumbirmos às adversidades. Se desenvolvermos essa competência, na velhice pode haver uma possibilidade ampliada de enfrentar as dificuldades, que não são poucas.
Pergunto:
– COMO EXPLICAR ESSE “REPENSAR” PARA PODER “REINVENTAR A VIDA”, DE MARIO SERGIO CORTELLA?
Ao condicionar o poder de “reinventar a vida” à capacidade individual de “repensar a vida”, a primeira ideia que me vem à mente é a de um estado interior de “insatisfação” com o nosso “modo de viver” (e não com o que cada um de nós entendemos ser a “vida”). Tanto que no livro acima citado, Cortella faz referência expressa à necessidade de um nosso “pensar” sobre o “tipo de vida que vale a pena, ou não, ser por nós vivido”. Trata-se, portanto, de uma opção pessoal, individualizada, de liberdade absoluta de “escolha”. Aliás, também nesse sentido, no século XIX o filósofo Soren Aabye Kierkegaard (1813-1855), considerado o pai do Existencialismo, se insurgiu contra o pensamento idealista alemão dominante na Europa continental. Ele concebeu três dimensões de vida, sujeitas à escolha do indivíduo, denominadas estádios “estético”, “ético” e “religioso”. De acordo com Ranis Fonseca de Oliveira, doutor e mestre em Filosofia pela PUC-SP, pela “vida estética” o indivíduo busca a sensação interior de plena satisfação prazerosa; pela “vida ética”, prioriza a liberdade ética da sua escolha de acordo com as prevalecentes regras morais da sociedade na qual ele vive; finalmente, na dimensão existencial de uma “vida religiosa”, o indivíduo abandona o prazer estético para intensamente se dedicar à sua fé.
Verifica-se, portanto, que as opções de escolhas do nosso “modo de viver”, também são influenciadas e construídas culturalmente. Inclusive porque, em todas as “realidades de vida”, o mundo é por nós interpretado de acordo com as nossas necessidades interiores de idealizações e de satisfações em todos os sentidos. O que devemos é encontrar significados para as nossas vidas e acreditar que temos uma missão existencial com origem superior de essência espiritual.
Termino, com este “sentir” do cientista brasileiro Marcelo Gleiser:
O SENTIDO DA VIDA É VIVER EM BUSCA DE SENTIDO. É NO ATO DA BUSCA, NA EXPERIÊNCIA DO NOVO E DO INESPERADO, QUE DAMOS SENTIDO À NOSSA EXISTÊNCIA.
Notas:
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2.A citação da psicóloga Ligia Py foi extraída da abordagem de Renato Rocha Mendes, sobre “A explosão dos conhecimentos”, publicada na Edição 117, de outubro de 2017, da Revista da Cultura, publicação da Livraria Cultura; as referências feitas ao filósofo Kierkegaard foram feitas do artigo “Os Estadios da Existência, de autoria do doutor e mestre em Filosofia, Ranis Fonseca de Oliveira, publicado no número 136, Ano X, da Revista Filosofia, da Editora Escala; a citação do cientista Marcelo Gleiser, foi extraída do seu livro “A simples beleza do inesperado”, lançado no Brasil pela Editora RECORD.
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Muita paz e harmonia espiritual.