(272) Sentindo como entender a “solidão”.

“QUEM TEM VIDA INTERIOR JAMAIS PADECERÁ DE SOLIDÃO”.
São palavas do escritor, jornalista e radialista Artur da Távola (1936-2008). Não tive dificuldade de escolher uma frase sobre “SOLIDÃO”, para iniciar esta mensagem. Existem muitas, mas nem todas estão diretamente relacionadas à subjetividade desse estado interior de “sentir-se só” no sentido, por exemplo, da falta de uma pessoa ao nosso lado.

Como estudioso da arte, lembrei de Pablo Picasso, o gênio da pintura que sentia a “solidão” como uma necessidade interior para as suas inspirações. Ele explicava:

– Nada pode ser criado sem solidão. Criei em meu redor uma solidão que ninguém calcula. É muito difícil hoje em dia estar-se sozinho, pois existem relógios. Já alguma vez viu um santo com relógio? Não consegui encontrar nenhum, mesmo entre os santos que são considerados os santos padroeiros dos relojoeiros.” Até no mostrar o abstrato, existiam no seu imaginário sensórias matizes de uma subjetiva e inspiradora espécie de “presença”. Veja:

– Não existe nenhuma arte abstracta. Tem que se começar sempre com algo. Depois podem-se afastar todos os vestígios do real. Então não existe qualquer perigo, pois que a ideia da coisa deixou entretanto um sinal indelével. É aquilo que originalmente pôs o artista em andamento, estimulou suas ideias, animou os seus sentimentos. Ideias e sentimentos serão por fim prisioneiros dentro do seu quadro. Aconteça com eles aquilo que acontecer, não podem já fugir da tela. Formam com ele uma íntima união, mesmo que a sua presença tenha deixado de ser reconhecível. Quer o homem queira, quer não, ele é a ferramenta da natureza. O artista é como um receptáculo de sentimentos que vêm de toda a parte: do céu, da terra, de um pedaço de papel, de uma figura que passa, ou de uma teia de aranha.

Esta não é a primeira vez que dedico mensagem à subjetividade desse sensório estado interior, chamado “Solidão”. Em janeiro de 2017, sustentei que podemos afastar a “solidão” do nosso coração. Foi quando declarei que as minhas chegavam “de fora para dentro” (mensagem 141). Hoje não penso mais assim, porque entendo ser a “Solidão” manifestação de sentimento com natureza dependente da valoração de cada indivíduo. Necessariamente, não me parece sempre depender de um estímulo externo (com a roupagem de sensação de ausência) que, em nós, enseje o sentimento de “sentir-se só”. É por isso que existem pessoas que vivem sozinhas, sem nunca ter reclamado de “solidão”; ou convivendo com alguém ao seu lado que, ao contrário, vivencia intenso e doloroso sentimento de “solidão”. Parecendo-me reforçar este meu entendimento, explica a doutora Daniela Benzecry:

– Todos os sentimentos são imagens relacionadas ao corpo. Eles processam-se na mente, mas alguma noção corporal é essencial para existirem. A consciência é necessária para que ocorra o sentimento, pois ele é a própria vivência consciente das ocorrências, incluindo das manifestações que ocorrem no corpo ao se reagir aos estímulos (objetos e situações), as emoções. Para Jung, essa vivência consciente é subordinada ao entendimento dado pela razão segundo os valores do objeto para o indivíduo no sentido de
provocar uma aceitação (do que dá prazer) ou rejeição (do que dá dor/”desprazer”).

Agora, preste atenção: Se podemos criar percepções de “solidão”, principalmente no sentido de isolamento, precisamos estar conscientes das suas consequências negativas para saúde. Esclarece o psicólogo Marco Callegaro, que também é mestre em Neurociências e Comportamento:

– Numerosos estudos têm mostrado que a solidão é responsável por um leque de problemas de saúde, contribuindo para a doença de alzheimer, transtornos do sono, aumenta o risco de demência e morte prematura, e é uma das principais causas de depressão.
Um estudo revelou que a solidão causa uma expressão exagerada nos genes em células cardíacas, e estas produzem uma reação inflamatória que lesiona o tecido do coração. Neurocientistas descobriram que a percepção de exclusão usa a mesma rede da dor física no cérebro. Ou seja, a solidão dói, literalmente.

Pergunto:

– COMO EXPLICAR A “SOLIDÃO” EM NOSSAS VIDAS?

São muitas as respostas possíveis, porque somos “seres únicos” e com as suas individualizadas percepções de “Solidão”. Talvez tenha sido este mesmo meu “sentir” que inspirou o escritor alemão Hermann Hesse (1877-1962), ao definir a “Solidão” como sendo o modo que o destino encontrou para levar o homem a si mesmo. Certo é que, pelo fluir existencial da nossa experiência de viver, o significado de todos os caminhos é o “solitário”. O meu é diferente do seu; os nossos, diferentes de todos os outros. Nós somos “viajantes solitários” por destinos desconhecidos, onde as circunstâncias, inclusive de uniões, não escondem a nossa íntima sensação de que estamos sós para nós mesmos.

Para você que gosta de astrologia trago este entendimento de Oscar Quiroga, que foi publicado em 29/12/2019 na Revista do Correio, Ano 15, n. 763, do Jornal Correio Braziliense:

– A estranha experiência da solidão.
É humano experimentar o denso sentimento de solidão, essa é uma experiência pela qual todos passamos, alguns ficando nela e nos identificando com a solidão; outros a tratando com desdém e nos lançando à vida louca dos contatos sociais. Do ponto de vista do funcionamento cósmico, a solidão humana é impossível, porque estamos todos intimamente conectados numa só mente, que nos faz sentir e perceber em tempo real o somatório do que acontece no mundo. A solidão, por isso, é uma condição que resulta de uma imposição conceitual que fazemos a nós mesmos, a de que nossas vidas interiores são impenetráveis e invioláveis, o que tampouco é real, porque nossos olhos expressam, à nossa revelia, o que nos emociona. Temos aí um enigma, apesar de não sermos isolados, mesmo assim experimentamos a solidão. Por quê?

Termino esta mensagem, com este “sentir” da escritora Martha Medeiros:

QUANDO DOU PRA TI, SOU MULHER. QUANDO DOU POR MIM, SOLIDÃO.

Pense nisso e volte sempre neste novo ano que se inicia, que quero para todos nós sem sentimentos de “solidão” no coração!

Notas:
1.A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link, para os efeitos da Lei 9610/98, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
2.A citação de Pablo Picasso foi reproduzida do livro “PICASSO”, de Ingo F. Walther, lançado no Brasil pela Editora TASCHEN com tradução de Ana Maria Cortes Kollert; a da doutora Daniela Benzecry foi reproduzida do seu livro “Sentimentos, valores e espiritualidade/Um caminho junguiano para o desenvolvimento espiritual, lançado no Brasil pela Editora VOZES; a do psicólogo Marco Callegaro, do seu artigo “O Cérebro Solitário, publicado na Edição n. 111, Ano IX, da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala.
3.Havendo, neste espaço virtual, qualquer citação ou reprodução de vídeos que sejam contrários à vontade dos seus autores, serão imediatamente retiradas após o recebimento de solicitação feita em “comentários” no final de cada postagem, ou para edsonbsb@uol.com.br

Muita paz e harmonia espiritual.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Busca Interior. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *