(217) Sentindo a “necessidade humanista” de conhecer o autismo (Parte II).

Reforço preliminar de um esclarecimento necessário: – Nesta nossa caminhada de “autoconhecimento”, em mensagens anteriores ficou registrado que a criação deste espaço virtual surgiu da uma “percepção sensória” de um “chamado interior”, na época com motivação consciente completamente desconhecida (mensagem 044, dentre outras). Com o fluir ilusório do passar do “tempo”, percebi que estava assumindo um compromisso existencial e espiritual de “AJUDA” (Entenda-se essa “ajuda”, no sentido de transmitir a “necessidade” e os “benefícios” que podemos alcançar com o conhecimento da nossa “subjetividade”, tentando descobrir os significados das nossas “emoções” e “sentimentos”. Com esse “semear virtual”, a primeira colheita surgiu com a mensagem 030 pelos comentários recebidos, consegue cativar com a força do “AMOR” nos cuidados do marido à sua esposa com “alzheimer”, há 14 anos. Agora, com esta série sobre “autismo”, sinto-me no dever de novamente esclarecer que não sou da área de saúde. Por esta razão de “responsabilidade ética”, todas as informações serão prestadas ou comentadas com a indicação das respectivas especialidades dos seus autores.

No final da mensagem anterior (postada em 26/04/2018), antecipei que nesta oportunidade seriam feitas considerações sobre esta observação do neurobiologista Wolf Singer, diretor emérito do Instituto Max Planck de Pesquisa do Cérebro, que merecem a atenção de familiares, cuidadores e educadores de pessoas com “TEA”:

– Crianças autistas, por exemplo, têm dificuldade de decifrar o sentido das expressões faciais e associá-las a emoções. Isso lhes torna difícil deduzir das expressões faciais dos cuidadores se elas se comportaram bem ou mal, e essa incapacidade as impede de desenvolver a capacidade de socialização.
Quando crianças autistas realizam uma tarefa, acabam sempre olhando para o cuidador que as acompanha para avaliar se o comportamento delas está correto ou não. Se não conseguem interpretar as expressões dos cuidadores, é difícil para elas desenvolver suas funções cognitivas e se relacionar com o mundo, de modo que ficam cada vez mais isoladas. Esse isolamento é outra explicação da imensa capacidade de memorização de algumas crianças autistas. Considerando que não são capazes de investir nas relações sociais, seu entorno fica extremamente empobrecido; elas dirigem, então, toda a atenção para outras fontes de informação, como tabelas de horários e calendários, que decoram, repetem e memorizam. Como não sou especialista na matéria, aceite com cautela o que acabei de dizer.

Trata-se, portanto, de uma questão essencialmente relacionada às “vinculações sensórias” presentes nas interações existenciais de manifestações interiores de “subjetividades” (ou seja, a da criança autista, com a de outras pessoas). Entendo que essas experiências vivenciadas com os portadores de transtornos autísticos (designados como Transtornos Globais do Desenvolvimento, na décima versão da CID-10 da Classificação Internacional de Doenças), também são valiosas experiências de “autoconhecimento”. Sempre ressalvando que não sou da área de saúde, assim explico este meu pensar sobre a observação do doutor Wolf Singer: Como as crianças autistas “têm dificuldade de decifrar o sentido das expressões faciais e associá-las a emoções” (o que impede desenvolver a capacidade de socialização), deve a outra pessoa com quem elas estão interagindo (familiares, cuidadores ou educadores, dentre outros) “voltarem-se para si mesmo” (prática de “autoconhecimento”) e, assim, poder “sentir”, “querer entender” e “avaliar” com a criança autista em face da sua dificuldade de socialização. Resumindo: Para mim, as manifestações de “transtornos de autísticos” refletem matizes sensórias da “subjetividade interior” dos seus portadores (mostragem definida pelas conhecidas limitações relativas ao atraso no desenvolvimento da linguagem, às dificuldades nas relações sociais e aos comportamentos estereotipados. Exemplos:

1. Como esclarece a psiquiatra infantíl da Unicamp, doutora Lídia Straus: “A criança autista tem dificuldade de interpretar afeto e metáforas. Ela não compreende as entrelinhas. Geralmente ela tem dificuldade de interpretar o todo, ela se atém a detalhes. Elas têm uma visão diferente das demais crianças”.

2. Como o autista não consegue distinguir suas sensações internas daquelas que lhe chegam do exterior, esclarece a psicanalista Leda Bernardino, analista membro da Associação Psicanalítica de Curitiba: “O paradoxo está na estrutura do processo de construção da subjetividade, que necessita da união com o outro para a montagem da identidade da criança. Como a criança autista não vive a operação psíquica da união, também não pode entender o sentido da separação”.

Termino esta mensagem com estes sinais de alerta, selecionados pelo neurologista Adailton Tadeu Pontes:

1.COMUNICAÇÃO: Não responde ao próprio nome. Não consegue dizer o que quer. Atraso na linguagem. Não atende as ordens. Aparenta ser surdo algumas vezes. Não aponta, nem acena tchau. Falava algumas palavras e agora não fala mais.

2.SOCIALIZAÇÃO: Não sorri socialmente. Prefere brincar sozinho. Ele mesmo pega o que deseja. É muito independente. Faz determinadas coisas precocemente. Faz pouco contato com o olhar. Vive em seu próprio mundo. Ele nos ignora. Não tem interesse em outras crianças.

3. COMPORTAMENTO: Crises de raiva. Hiperativo, opositivo, não coopera. Não sabe brincar com brinquedos. Anda na ponta dos pés. Tem o hábito de se interessar demasiadamente por outros objetos. Gosta de enfileirar objetos. É muito sensível a determinadas texturas e sons. Faz movimentos estranhos.

Notas:

1.A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link, para os efeitos da Lei 9610/98, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
2.Havendo, neste espaço virtual, qualquer citação ou reprodução de vídeos que sejam contrários à vontade dos seus autores, serão imediatamente retiradas após o recebimento de solicitação feita em “comentários” no final de cada postagem, ou para edsonbsb@uol.com.br
3.A citação do entendimento pessoal do neurobiologista Wolf Singer foi retirada do livro “Cérebro e Meditação – Diálogos entre o Budismo e a Neurociência”, lançado no Brasil pela Editora ALAÚDE, que recomendo para os meus seguidores desta jornada para o “autoconhecimento”.
4.A citações de especialistas da área de saúde, foram feitas dos artigos “Criança Encapsulada”, da jornalista Roberta de Medeiros, e “Transtornos Autistas”, do médico neurologista Carlos A. N. J. Gadia, publicados na Edição 74, Ano VI, de Fevereiro de 2012, da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala.

Muita paz e harmonização interior.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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