(347) Sentindo a importância de “subjetivar” as percepções do nosso viver.

“O QUE SE PERDE SE CONCENTRA NO INFINITO.”

São palavras do escritor Marco Lucchesi, poeta bilíngue, ensaísta, tradutor com domínio fluente de mais de vinte idiomas, ocupante da cadeira quinze da Academia Brasileira de Letras. Na condição de seu seguidor, aprecio e gosto das suas belas e subjetivas maneiras de transmitir o seu “sentir a vida”. Foram escolhidas para iniciar este nosso encontro, do seu primoroso texto “Deserto e as Formas”, que ele chamou de ‘experiência do deserto’. Dele destaco: O deserto como ponto de encontro. O deserto como ponto de fuga. Nenhum deserto é vazio. Nenhuma solidão, solitária. O raso e o profundo se convertem mutuamente no deserto de areia.

Também não poderia deixar de enriquecer a nossa caminhada para o “autoconhecimento”, com esta inspiração que selecionei do seu livro “Os olhos do deserto”:

– Passam os dias, mas não passam minhas esperanças. Quero saber dos anéis de Saturmo e das combinações da Cabala. Quero armas e barões. Tempestades e aventuras. Sonho com as Plêiades votadas para Órion. Sonho com o tempo que não passa. Uma vida interminável. Simultânea e permanente. As batalhas de Tasso. A pluralidade dos mundos. Cavaleiros do luar, andarilhos da distância. E o diálogo, sempre. O diálogo em flor. Passam os dias, mas não minhas esperâncas.

COMO DEVEMOS ENTENDER A SUBJETIVIDADE EM NOSSAS VIDAS?

Esclarece o neurocientista António Damásio, no seu livro “A estranha ordem das Coisas – As origens biológicas dos sentimentos e da cultura”, lançado no Brasil pela editora Companhia Das Letras, com tradução de Laura Teixeira Motta:

– A subjetividade não é obviamente uma coisa, mas um processo, que depende de dois ingredientes cruciais: a criação de uma perspectiva para as imagens mentais e o acompanhamento das imagens por sentimentos. (…) Uma das principais contribuições para a construção da subjetividade é dada pela operação dos portais sensitivos, nos quais encontramos os órgãos responsáveis por gerar imagens do mundo eterno. (…) Em resumo, um estado mental, uma mente, é uma condição básica para que experiências conscientes existam no sentido tradicional. Quando essa mente adquire um ponto de vista, isto é, um ponto de vista subjetivo, então a consciência propriamente dita pode começar.

Desse entendimento de Damasio sobre a construção da subjetividade, o que mais gostei foi essa relação associativa, condicionante, das nossas percepções de “realidades” sendo elaboradas por imagens dos nossos “sentimentos”. É como se as “emoções interiores” estão presentes nas abstrações de muitas das nossas realidades.

Também não podemos deixar de reconhecer a valiosa contribuição da Psicanálise, preconizada por Freud, quando no seu texto “A interpretação dos sonhos” afirma ser o inconsciente a nossa verdadeira “realidade psíquica”. Explica Ana Suy Sesarino Kuss, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), que possui doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise, no seu interessante artigo, “Os outros que vivem em nós”, publicado na Revista humanitas, edição 163, da Editora Escala):

– Nossa realidade compartilhada, por vezes, é dividida apenas no campo da palavra, uma vez que nós nunca compartilhamos com alguém exatamente da mesma experiência. O inconsciente de cada um se atravessa fundando cada realidade, e talvez possamos dizer que cada um vive em uma realidade diferente da realidade do outro, ainda que possamos encontrar certas coisas em comum. A realidade de cada um de nós é confeccionada da nossa história, dos nossos genes, da nossa forma de habitar nosso corpo, da história dos nossos antepassados… e isso não se replica. Por mais que tenhamos irmãos nascidos em uma mesma família, ainda que sejam gêmeos, cada um terá experiências diferentes na relação com a sua existência e com o modo como o mundo recebeu cada um. Quando desconsideramos as tantas nuances que compõem as nossas maneiras de existir, tendemos a pensar que o outro é o nosso igual, nosso semelhante e que por isso poderíamos saber o que ele pensa e sente.

Para perpetuar em nossas lembranças, dedico esta mensagem para Tony Bennett com sentimento de “Saudade Eterna”,

Notas:
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3. Vídeo copiado do YouTube/vevo.

Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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