(237) Sentindo a construção e o desenvolvimento do nosso “mundo interior”.

“O HOMEM, EM SEU DESENVOLVIMENTO, CONSTRÓI UM MUNDO INTERIOR QUE FALA A LINGUAGEM DOS SÍMBOLOS E, POR MEIO DELES, RELACIONA-SE COM A NATUREZA QUE NOS HABITA E ÀS SUAS EXIGÊNCIAS”. São palavras do médico e psicoterapeuta junguiano Carlos São Paulo, comentando a novela “A Morte de Ivan Ilich, de 1886, do escritor russo Lev Tolstói, publicada no Brasil pela Editora 34. O tema central dessa obra literária foi assim resumido pelo doutor Carlos São Paulo:

– Trata-se de uma “profunda reflexão do protagonista ao enfrentar uma doença e a possível morte, que o faz avaliar o que teve validade em sua existência.
Os homens criam um mito coletivo do que é ideal ser dentro de uma sociedade. O EU se ilude e, em lugar de viver a sua verdade, muitos indivíduos procuram atender a esse ideal, esforçando-se para realizar o desejo ambicioso de obter posições sociais e ter poder. Ao adoecerem, dão-se conta da morte, e essa verdade lança-os às alturas para terem uma visão às vezes tardia, de uma vida plástica que, em lugar de respeitar sua singularidade, investiu para atender a verdade coletiva.

É mais uma valiosa contribuição do doutor Carlos São Paulo, que enriquece a nossa jornada para o “autoconhecimento” com os seus conhecimentos consolidados por uma modelar prática terapêutica pautada, de modo exemplar, nos ensinamentos de Carl Gustav Jung. Além do seu entendimento destacado no início desta mensagem, merece atenção esta explicação relacionada ao casamento do personagem principal, mantido sem “envolvimento de alma” e apenas para atender a oportunidade de cumprir a adaptação ao ideal social:

– Em um casamento, buscamos completar-se no outro e esse outro pode nos revelar a relação do EU com a sua própria alma. Para a Psicologia Analítica, “alma” é um conceito que define o modo como o EU se relaciona com o mundo interior, enquanto “persona” determina o modo com que esse mesmo EU se relaciona com o mundo exterior. (…)
Como o mundo externo que compartilhamos faz-nos reféns da razão e nos impede de ouvir os “murmúrios” da natureza que nos torna singular, muitos acabam seguindo o ritmo frenético dos “gritos” produzidos nesse mundo e se conduzem como manadas interessadas em realizar seus desejos ambiciosos de chegar ao sucesso em detrimento da alma.
Quando estamos tensionados entre as exigências de ser um indivíduo singular, imprevisível, adaptado a si mesmos para decidir seus caminhos de acordo com a essência, e a decisão de realizarmos nossos desejos ambiciosos, no silêncio da noite, o EU cede lugar aos sonhos.

Ora, se a construção do nosso “mundo interior” fala a linguagem dos nossos “símbolos”, recorro a esta explicação do doutor Carlos São Paulo sobre o conto “O Cego Estrelinho”, que faz parte do livro “Estórias Abensonhadas”, do escritor moçambicano Mia Couto, lançado no Brasil pela Editora Companhia das Letras, que recomendo a leitura:

– Na Psicologia de Jung, chamamos de símbolo qualquer imagem que funcione como veículo de energia e mistérios. Imagens que mostram uma face conhecida e outra que se esconde da consciência. A atitude da consciência, que, em sua ilusão de realidade, tenta decifrá-las, destrói o símbolo e o reduz a algo como se tivesse existência própria. Ao fazer isso, dissolvemos tais imagens no caldeirão de crenças que pensamos dar acesso à realidade e, aí, desmanchamos o símbolo. A vida humana construiu seus símbolos e lhes deu a condição de nos orientar de volta a essa nossa natureza de que um dia nos afastamos, mergulhados na ilusão da lógica do ego. Os símbolos não precisam dessa lógica e eles são os guias que verdadeiramente, nos levam pelo caminho do destino a ser cumprido. (…) Um dia chegaremos ao mundo dos nossos sonhos. É um mundo colorido, onde dispensaremos o nosso conceito de verdade. Lá, o encontro do mar com o céu será entendido por todos e não apenas, pelos poetas; todos terão o mesmo benefício de enxergar com a alma. Os olhos serão, apenas e tão somente, portas para permitir o livre trânsito entre dois mundos antes unidos.

Sempre ressalvando que não pertenço a nenhuma área de saúde, pelo meu interesse pelos estudos da “psique humana” entendo que somos nós que criamos os “significados” dos nossos “símbolos”, em todas a nossas “vivências sensórias”.

Termino, com este belo e significativo “sentir” do escritor Mia Couto:

– PRECISAMOS REAPRENDER A USAR A IMAGINAÇÃO, PARA VIVERMOS OS ENCANTOS DA VIDA.

Notas:

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2.As citações do doutor Carlos São Paulo foram reproduzidas das edições 95 e 150 da Revista PSIQUE, publicação da Editora Escala.
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Muita paz e harmonia espiritual.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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