“A vida é só uma sequência de momentos. Se encadearmos essas sequências, a vida muda.”
São palavras do americano Richard J. Davidson, PhD em neuropsicologia e pesquisador na área de neurociência afetiva, em entrevista publicada originalmente no site do jornal espanhol La Vanguardia, em 27/03/2017, traduzida para o nosso idioma por Tibet House Brasil com o título “Sentimentos Nobres Curam Genes Doentes”. Dela destaco para este nosso encontro:
Palavras iniciais de Richard:
Descobri que uma mente calma pode produzir bem-estar em qualquer tipo de situação. E quando me dediquei a investigar, por meio da neurociência, quais são as bases para as emoções, fiquei surpreso por ver como as estruturas do cérebro podem mudar em tão somente duas horas.
Em duas horas!
Hoje, podemos medir com precisão. Levamos meditadores ao laboratório e, antes e depois da meditação, tiramos uma amostra de sangue deles para analisar a expressão dos genes.
E a expressão dos genes muda?
Sim. E vemos como as zonas com inflamação ou tendência à inflamação tinham uma abrupta redução disso. Foram descobertas muito úteis para tratar a depressão. Contudo, em 1992, conheci o Dalai Lama e minha vida mudou. “Admiro seu trabalho – ele me disse -, mas acho que você está muito centrado no estresse, na ansiedade e na depressão. Nunca pensou em focar suas pesquisas neurocientíficas na gentileza, na ternura e na compaixão?”
O que você descobriu?
Que há uma diferença substancial entre empatia e compaixão. A empatia é a capacidade de sentir o que sentem os demais. A compaixão é um estado superior. É ter o compromisso e as ferramentas para aliviar o sofrimento.
E o que isso tem a ver com o cérebro?
Os circuitos neurológicos que levam à empatia ou à compaixão são diferentes.
E a ternura?
Forma uma parte do circuito da compaixão. Uma das coisas mais importantes que descobri sobre a gentileza e a ternura é que se pode treiná-las em qualquer idade. Os estudos nos dizem que estimular a ternura em crianças e adolescentes melhora os resultados acadêmicos, o bem-estar emocional e a saúde deles.
E como se treina isso?
Primeiro, levando a mente deles até uma pessoa próxima, que eles amam. Depois, pedimos que revivam um momento em que essa pessoa estava sofrendo e que cultivem o desejo de livrar essa pessoa do sofrimento. Logo, ampliamos o foco para as pessoas não tão importantes e, por fim, para aquelas que os irritam. Estes exercícios reduzem substancialmente o bullying nas escolas.
Da meditação à ação há uma distância.
Uma das coisas mais interessantes que tenho visto nos circuitos neurais da compaixão é que a área motora do cérebro é ativada: a compaixão capacita a pessoa a agir para aliviar o sofrimento do outro.
É preciso estar aberto e exposto.
Sim. E por último, ter um propósito na vida, que é algo que está intrinsecamente relacionado ao bem-estar. Tenho visto que a base para um cérebro saudável é a bondade. Treinamos a bondade em um ambiente científico, algo que nunca tinha acontecido antes.
E como convencê-los?
Por meio de provas científicas. Tenho mostrado a eles, por exemplo, o resultado de uma pesquisa que temos realizado em diversas culturas diferentes: se interagirmos com um bebê de seis meses usando fantoches, sendo que um deles se comporta de forma egoística e o outro de forma amável e generosa, 99% dos bebes preferem o boneco que coopera.
Cooperação e amabilidade são inatas.
Sim, mas são frágeis. Se não são cultivadas, se perdem. Por isso, eu, que viajo muitíssimo (o que é uma fonte de estresse), aproveito os aeroportos para enviar mentalmente bons desejos para todos com quem cruzo no caminho, e isso muda a qualidade da experiência. O cérebro do outro percebe isso.
Hoje, a “mindfulness” (“atenção plena”) tornou-se um negócio.
Cultivar a gentileza é muito mais efetivo do que se centrar em si mesmo. São circuitos cerebrais distintos. A meditação em si não interessa para mim. O que me importa é como acessar os circuitos neurais para mudar o seu dia a dia, e sabemos como fazer isso.
Pensem nisso.
Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual para todos.