“NÓS NÃO VEMOS O QUE VEMOS, NÓS VEMOS O QUE SOMOS. SÓ VEEM AS BELEZAS DO MUNDO, AQUELES QUE TÊM BELEZAS DENTRO DE SI” (Rubem Alves).
As imagens do nosso “mundo interior”, nem sempre são por nós conhecidas ou definidas pelas “impressões sensórias” que nos causam. É diferente do que acontece com as “imagens sensitivas” dos nossos “sentimentos, que podem ser por nós avaliadas quando conhecemos a natureza perceptiva das nossas experiências vivenciais. Por sua vez, as imagens recebidas do nosso “mundo exterior” são elaboradas pelos conceitos cerebrais subjetivamente emergentes do nosso modo de “sentir”. É por esta razão que para muitos, a realidade não existe fora da mente. Muitas delas são criações imaginárias. Aliás, sobre essa nossa capacidade de “imaginar” a realidade, esclarece Suzanne Langer nos seus “Ensaios Filosóficos”: “Embora a imaginação constitua nosso mundo, isso não quer dizer que o mundo seja uma fantasia e nossa vida um sonho. O que significa que o mundo é maior que os estímulos que o cercam.”
Gosto deste “sentir” do escritor Mia Couto, nascido na Beira, em Moçambique, mostrado no conto “O Cego Estrelinho”, do seu livro “Estórias Abensonhadas”, lançado no Brasil pela Editora Companhia das Letras, que recomendo a leitura para todos os deficientes visuais:
– PARA VIVERMOS O ENCANTO DA VIDA, PRECISAMOS REAPRENDER A USAR A IMAGINAÇÃO.
Entendo que para melhor entender a percepção interior das “imagens sensoriais” criadas pelos deficientes visuais (principalmente, pelos de nascença), merece atenção esta descoberta sobre “neuroplasticidade”: o nosso cérebro não consegue diferenciar a “realidade”, da “imaginação”. Esclarece o neurocientista Joe Dispenza:
– O cérebro, longe de ser estático e imutável, está em constante transformação e comporta-se como poderoso instrumento de criação da realidade, mesmo imaginada. (…) as células cerebrais são constantemente remodeladas e reorganizadas por experiências e pensamentos.
Ora, se por meio dessa comprovada “plasticidade cerebral” ocorrem reorganizações neuronais que decorrem das nossas experiências e pensamentos, sugiro que todos os familiares e pessoas que convivem com deficientes visuais, sempre que possível, procurem evitar sucessivas interações meramente repetitivas. É importante, na nossa comunicação com eles, despertar novos estímulos (interiores e exteriores) de “interesse” e de “curiosidade”. Viabiliza-se, assim, o surgimento interior de uma valiosa “percepção imaginárias” das suas realidades ainda desconhecidas. Explico: essas “percepções
imaginárias”representam o sentir interior de uma “sensação” vinda da sua ambientação existencial, de “algo que existe” e ainda é desconhecido do deficiente visual de nascença. Com clareza, esclarece a doutora Daniela Benzecry, no seu livro “Sentimento, valores e espiritualidade”, lançado no Brasil pela Editora VOZES:
– Quando toco num objeto, por exemplo, sinto pelo tato imediatamente que ele é áspero; se há um barulho, percebo-o pela audição; se há um odor perfumado, o olfato permite que eu o sinta, assim por diante; os órgãos dos sentidos informam que algo é. A sensação apenas diz que algo é, que existe, e para isso a reflexão não é necessária. A sensação não define o que é, não denomina a superfície de áspera, nem denomina o barulho assim, nem o odor de perfumado, isso é feito pela função pensamento passando pela reflexão.
Destaco da excelente matéria sobre Neurofisiologia, publicada na edição 46, Ano IV, da Revista PSIQUE, assinada pela jornalista Sucena Shkrada Resk com o título “Uma leitura das Imagens Interiores”, o seguinte:
1. Processo cognitivo permite às pessoas com baixa visão encontrar na fotografia um caminho para resgatar valores e transmitir para o mundo a possibilidade de enxergar além do consciente.
2. Toda imagem visual é projetiva, pois se trata de energia neuroelétrica e ganha forma pela modulação emocional e intelectual. Por isso o deficiente visual tem capacidade de interpretar uma imagem, uma vez que ele despeja emoção para interpretá-la.
3. A neurofisiologia explica que os cegos têm a capacidade de enxergar mentalmente, em situações imaginativas, assim como as pessoas de membro amputado que, por vezes, registram sentir os membros fantasmas.
4. A fotografia pode ajudar na descoberta da autoestima do deficiente visual. Desta forma, ele se sente mais encorajado a sair, ter maiores relações sociais e enfrentar situações que antes traziam dor, como caminhar nas ruas.
Essa bela e esclarecedora abordagem da jornalista Sucena, foi enriquecida pela colaboração de dois fotógrafos deficientes, com baixa visão adquirida na fase adulta: João Batista Maia da Silva, piauiense, e Marco Aurélio Pereira Oton, de São Paulo. Segundo eles, “a fotografia representa, para nós, um grito pela acessibilidade. É uma forma de mostrar aos videntes (pessoas que enxergam), que o nosso mundo não é restrito à escuridão. A gente vive, namora, estuda e está presente na sociedade.” Por sua vez, esclarece o biólogo e doutor em Neurofisiologia da Memória e Atenção, André Frazão Helene:
– De uma pessoa com baixa visão, dependendo da origem e de quando houve a perda ou redução, podemos esperar padrões de visão mental bem diferentes. A capacidade de imaginar é resultado da atividade das áreas visuais do cérebro. Isso quer dizer que, em casos em que a cegueira foi causada por uma lesão das áreas cerebrais dedicadas à visão, seria esperada a redução da capacidade de imaginar imagens. No entanto, a maioria dos casos de perda da visão envolve problemas que não estão no cérebro da pessoa, mas sim em seus olhos. (…) O cérebro por não receber estímulos do olho, parece estar cego também, mas pode enxergar, em situações imaginativas.
Termino esta série de mensagens, com este entendimento do neurocientista António Damásio, publicado no seu livro “O mistério da consciência do corpo e das emoções ao conhecimento de si”, lançado no Brasil pela Editora Companhia Das Letras, com tradução de Laura Teixeira Motta e Revisão Técnica de Luiz Henrique Martins Castro:
– A palavra imagem não se refere apenas a imagem “visual”, e também não há nada de estático nas imagens. A palavra também se refere a imagens sonoras, como as causadas pela música e pelo vento, e às imagens somatossensitivas [para Damásio, são as que incluem várias formas de percepção: tato, temperatura, dor, e muscular, visceral e vestibular]. Em seguida, sobre como são construídas as imagens, esclarece Damásio de modo conclusivo:
– As imagens podem ser conscientes ou inconscientes. Cabe notar, que nem todas as imagens que o cérebro constrói se tornam conscientes.
Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual.