(226) Sentindo o espelhar interior das imagens sensórias dos deficientes visuais (Parte III).

Para Amit Goswami, Professor de Física da Universidade de Oregon, a consciência é a base de todo ser humano. Ela cria o que nós vemos como manifesto no universo (mensagem 214). Por sua vez, esclarece a doutora Susan Greenfield, pesquisadora da Universidade de Oxford, na Edição 368 da Revista Superinteressante, lançada no Brasil pela Editora Abril:

– A consciência não é um lampejo, mas um contínuo de conexões dos seus neurônios, que vão ocorrendo do momento em que você nasce até o fim da sua vida. A cada nova experiência, seu cérebro faz uma representação mental que é armazenada em sua memória. Quanto mais o mundo passa a ter significado para você, mais conexões são feitas em seu cérebro.”

Gosto deste “sentir” do monge budista Matthieu, mostrado no seu livro “Cérebro e Meditação”, lançado no Brasil pela Editora ALAÚDE, com tradução de Fernando Santos, que recomendo para todos que se interessam pela filosofia de vida oriental:

– Ela [a consciência] se baseia no raciocínio e na experiência introspectiva. Se considerarmos os pensamentos, as emoções e as sensações, assim como todos os outros eventos mentais, constataremos que todos eles têm um denominador comum: a capacidade de conhecer. De acordo com o budismo, essa capacidade fundamental da consciência é chamada de natureza fundamental da mente. Essa natureza é “luminosa”, no sentido de que ela permite conhecer o mundo exterior por intermédio das nossas percepções e de que ela ilumina nosso mundo interior por meio de nossas sensações, pensamentos, lembranças, previsões e consciência do momento presente. Ela é luminosa em comparação a um objeto inanimado, que é opaco, isto é, privado de qualquer capacidade cognitiva. (…) A mente pode estar consciente de si mesma sem precisar recorrer a outra mente para exercer essa função. Um dos aspectos da mente, na verdade seu aspecto mais fundamental – a consciência pura -, consiste em estar consciente de si mesma, sem que seja necessária a interferência de outro observador. (…) Os pensamentos são a manifestação da presença pura desperta, como as ondas que se elevam do oceano e se dissolvem novamente. O oceano e as ondas não são duas coisas fundamentalmente distintas.

Em síntese:

– A CONSCIÊNCIA DO DEFICIENTE VISUAL É “PURA” E “ILUMINADA”.

Complemento, com este poema do místico Angelus Silesius, citado por Rubem Alves na sua crônica “Memória da Infância”:

– TEMOS DOIS OLHOS. COM UM, NÓS VEMOS AS COISAS DO TEMPO, EFÊMERAS, QUE DESAPARECEM. COM O OUTRO, NÓS VEMOS AS COISAS DA ALMA, ETERNAS, QUE PERMANECEM.

Em seguida, comenta Rubem Alves:

– Na memória do primeiro olho estão guardadas coisas que realmente aconteceram. Mas as memórias do segundo olho são diferentes. E isso porque elas moram na alma. E a alma é uma artista. Artistas não aceitam a realidade. Essas reflexões me vieram no meu esforço de recuperar o meu tempo perdido. Talvez seja esse o jeito de se escrever sobre a alma em cuja memória se encontram as coisas eternas, que permanecem…

Estou convencido (e sempre acreditei) que “visão sensitiva” do deficiente visual é a da “ALMA”. Uma “luz interior” que envolve todas as suas “representações sensoriais”, definindo-as pelas “imagens cognitivas” dos seus imaginários. É assim que são construídas as suas realidades, existencial e espiritual.

É através dos órgãos dos sentidos que todos nós “entendemos” e “vivenciamos” as nossas realidades, que são interpretadas pelo cérebro mediante conectividades neuronais. Surgem, assim, o mosaico da percepção interior das nossas “sensações”. O esplendor de uma “totalidade sensória”, individualizada por nós e para nós, percebida de acordo com os nossos conceitos cerebrais de elaboração cognitiva.

Termino, com esta explicação do médico neurologista e conceituado neurocientista português, António Damásio, selecionado do seu livro “O mistério da consciência: do corpo e das emoções ao conhecimento de si”, lançado no Brasil pela Editora Companhia das letras, com tradução de Laura Teixeira Motta:

– As imagens também permitem inventar novas ações a serem aplicadas a situações inéditas e fazer planos para ações futuras – a capacidade de transformar e combinar imagens de ações e cenários é fonte da criação. (…) A consciência permite saber que as imagens existem dentro do indivíduo que as forma, situa as imagens na perspectiva do organismo, relacionando-as a uma representação integrada do organismo, e, com isso, permite a manipulação das imagens em favor dele. No processo de evolução, ela anuncia o despontar da antevisão no indivíduo.

Notas:

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Muita paz e harmonia espiritual.

Publicado por

Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br

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