(123) Sentindo a “Sensibilidade da Alma” da cineasta Anna Muylaert

A “Sensibilidade da Alma” é a singularidade do ser humano. É a “digital sensória” da nossa subjetividade. Todos nós temos uma individualidade definida. Somos o que sentimos e o que mostramos ser. Projetamos (de modo consciente ou não) as imagens da nossa “realidade interior”.

Neste espaço virtual, tivemos a oportunidade de conhecer manifestações do “sentir interior” das atrizes Geraldine Chaplin (filha de Charles Chaplin), Clarice Niskier, Marjorie Estiano, Maria Paula (também escritora), Betty Lago, Denise Fraga e Bibi Fereira; do ator, cineasta e dramaturgo Domingos de Oliveira; das escritoras Clarice Lispector, Simone Beauvoir e Lya Luft; da cantora de fados Carminho e do cantor Andrea Bocelli; da bailarina Morena Nascimento; do compositor Fernando Brant; do pianista João Carlos Martins, do neurocientista Miguel Nicolelis e do filósofo Marck Nepo. Todos mostrando as suas identidades emocionais, seus sentimentos e os significados de muitas das suas experiências de vida. Mostrando, as modelações subjetivas das suas “Sensibilidades da Alma”, compondo as “matizes existenciais” da arte de viver.

Com esta mensagem, essa galeria será enriquecida pela “Sensibilidade da Alma” da roteirista e diretora de cinema Anna Muylaert, recentemente convidada para ingressar na Academia do Oscar, motivo de orgulho para todos nós brasileiros.
A sua competência e dedicação consolidou exemplar trajetória profissional, merecendo registro, dentre outras, a sua consagrada direção do longa “Que horas ela volta?”, premiado nos festivais de Sundance, nos Estados Unidos, e de Berlim, na Alemanha.

O que motivou esta mensagem foi a entrevista concedida à repórter Renata Vomero, publicada na Edição 106, setembro/outubro, da Revista da Cultura (uma publicação da Livraria Cultura), com expressivas fotos de Rodrigo Fuzar (confira na íntegra, no site www.livrariacultura.com.br).

O tema central da entrevista foi o filme “Mãe só há uma”, baseado no Caso Pedrinho (como ficou conhecido o sequestro de um recém nascido, em uma maternidade de Brasília).

De acordo com a natureza da proposta deste espaço virtual, destaco da entrevista o seguinte:

– Sobre o desejo de fazer o “Mãe só há uma”:
Anna. (…) escolhi essa história, que é uma história pequena, mas muito simbólica. Teve um debate em que um cara falou: “Pô, mas eu queria saber detalhes do Caso Pedrinho”. E eu falei: “Então, você lê o livro sobre o Caso Pedrinho. Aqui, não é isso”. Foi escolhida essa trama livremente, a partir dessa história, que, inclusive, não é só dele – já conheci vários outros casos similares. Quis usar essa simbologia, usar o mito dessa história, para falar sobre a transição da infância para o mundo adulto, que é justamente a adolescência.

– Sobre a identidade de gênero, enfocada no filme:
Anna. Comecei a frequentar a noite, conhecer pessoas que tinham essa questão e quis trazer para o filme, porque achei que tinha a ver com identidade. Achei que iria fortalecer o filme. E, também, no começo, achava que estava falando um pouco, simbolicamente, da necessidade do homem ir em direção ao seu feminino. Mas, depois, a gente foi pesquisando e vendo como isso era real – menos simbólico e mais falando de uma geração atual.

– Sobre como lidar com essa questão:
Anna. Cara, na verdade, acho que lido pouco. Sou uma pessoa muito dos sentimentos. Não vou deixar de gostar de alguém por ser gay ou transexual ou preto ou japonês, enfim. Sempre me ligo às pessoas pela alma delas. Eu, pessoalmente, não lido muito com isso não. Aliás, acho que a maioria das pessoas, na verdade, não lida. Porque você gosta das pessoas porque você gosta. Só que, daí, pode ter uma censura a posteriori e tal. Ou a priori. Mas, na real, no fim das contas, você está sempre com as pessoas que você gosta.

– Sobre o protagonista Pierre [que interpreta o Pedrinho] se mostrar, no filme, do jeito que é:
Anna. Acho que isso é a coisa mais importante de todas, na verdade. Porque o filme mostra um momento da vida do adolescente em que ou ele vai ser ele ou ele vai agradar os pais. Ele fica nesse dilema. E, muitas vezes, não tem jeito: você vai ter de ser você. Mas muitas pessoas optam por agradar os pais. Então, de uma certa maneira, a família é a primeira instância do Estado, é a primeira instância da sociedade, das regras. (…) Esse filme, no fundo, é a briga do indivíduo com a sociedade, simbolizada pela mãe e pelo pai. (…) Acho que quem opta por ser quem é, mesmo contra a sociedade, tem mais chance de ficar feliz, de ficar pacificado na sua vida. Mas isso é uma escolha pessoal e, muitas vezes, inconsciente.

Comentários:
De início, dois esclarecimentos devem ser feitos: – Não assisti o filme “Mãe só há uma” e, nesta mensagem, não serão feitas considerações sobre o Caso Pedrinho.
O que desejo, nesta oportunidade, é contextualizar a “percepção interior” da cineasta Anna Muylaert (os reflexos da exteriorização da sua “Sensibilidade da Alma”), sobre a subjetiva experiência de um ser humano que, na plenitude da sua adolescência, toma conhecimento da sua real história de vida, envolvendo a sua biológica origem existencial, bem como os seus consequentes conflitos interiores de afinidades maternais, por ter sido sequestrado em uma maternidade, logo após o seu nascimento.

Ao responder a primeira pergunta acima resumida, Anna Muylaert considera ser “muito simbólica” a história da vida real que serviu de inspiração para o seu filme. De acordo com as projeções interiores da sua “Sensibilidade da Alma”, esse simbolismo, nitidamente subjetivo, foi dimensionado pela “transição da infância para o mundo adulto, que é justamente a adolescência”. Fase das descobertas de profundas “identidades interiores” que são necessárias ao nosso desenvolvimentos pisíquico, com manifestas repercussões de natureza socioafetiva, no caso do filme, para Pierre.

Certo é que a essência da história do filme “Mãe só há uma” (independente de ter sido inspirada em um sequestro), envolve um dos mais relevantes direitos fundamentais assegurados pela nossa Constituição, que é o da busca da identidade genética do ser humano.

Termino esta mensagem, com este “sentir interior” da Anna Muylaret, revelado na entrevista:

– Sou uma pessoa muito dos sentimentos. Não vou deixar de gostar de alguém por ser gay ou transexual ou preto ou japonês, enfim. Sempre me ligo às pessoas pela alma delas.

https://www.youtube.com/watch?v=G58NSS3LHmI

Notas:

1.A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link, para os efeitos da Lei 9610/98, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
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3.Vídeo youtube: “Mãe Só Há Uma (2016) – Trailer”.
4.Reprodução de parte da entrevista de Anna Muylaert, autorizada pelo jornalista Gustavo Ranieri, Editor-chefe da Revista da Cultura (uma publicação da Livraria Cultura).

Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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