(339) Sentindo a subjetividade nos significados das nossas emoções.

OS ESTADOS EMOTIVOS QUE EXPERIMENTAMOS SÃO DETERMINADOS PELAS AVALIAÇÕES QUE FAZEMOS.”

São palavras de Elisabeth Pacherie, pesquisadora do Instituto Jean Nicod, em Paris, no seu artigo “As Engrenagens do Sentimento”, publicado em “O desafio das Emoções”, n. 5, da Biblioteca Mente Cérebro, da Editora Duetto.

Todos nós sabemos quando estamos emocionados, mas nem sempre conseguimos explicar para nós mesmos. Significar as percepções do nosso “sentir emocional” são importantes experiências de “autoconhecimento”, porque espelham a essência subjetiva da nossa “interioridade existencial”. Essas buscas devem ser feitas silenciosamente e com naturalidade. Com elas, podemos favorecer condições para interpretar insights de significados da linguagem simbólica de muitos dos nossos “sentimentos” e “emoções”. Mas como ensina Jung, não podemos esquecer que “toda interpretação é uma hipótese e o inconsciente sabe mais do que a nossa compreensão consciente” (Collected Works, 8, par. 568). Complemento com esta explicação do neurocientista António Damásio, no seu livro “O mistério da consciência: do corpo e das emoções ao conhecimento de si”, publicação da Editora Companhia Das Letras, com tradução de Laura Teixeira Motta:

– A consciência tem de estar presente para que os sentimentos influenciem o indivíduo que os tem, além do aqui agora imediato. (…) Sentir uma emoção é uma coisa simples. Consiste em ter imagens mentais originadas em padrões neurais representativos das mudanças no corpo e no cérebro que compõem uma emoção. Não precisamos ter consciência do indutor de uma emoção, com frequência não temos e somos incapazes de controlar intencionalmente as emoções.

Também merecem atenção os “estímulos emocionais” que recebemos com os nossos envolvimentos de realidades. Explica o médico e psicoterapeuta junguiano, Carlos São Paulo, fundador do Instituto Junguiano da Bahia:

– Possuímos um “eu” para nos relacionar com o mundo em volta e, também, com aquele outro mundo interno, criado a partir do que vai se organizando com nossas experiências, misturadas às respostas coordenadas pela nossa constituição biológica. O mundo externo pode nos envolver em eventos que não atendem às nossas expectativas e nos conduzem a um estado de insatisfação muitas vezes desproporcional ao acontecimento. Essa insatisfação pode nos trazer um sofrimento maior do que deveria, caso não houvesse despertado experiências antigas, situadas em memórias emocionais que, embora sejam acontecimentos diferentes, guardam entre si semelhança.

Pergunto para você:

COMO ENTENDER OS NOSSOS “SENTIMENTOS EMOCIONAIS”?

Em qualquer resposta para esta pergunta, implicitamente sempre será transmitida a essência deste precioso ensinamento do filósofo estoico Epicteto, divulgado na sua obra The Enchiridion, por mim considerado um dos fundamentos históricos de todas as terapias cognitivas – “O que importa é conhecer a sua reação, o modo como você percebe, e não apenas o que acontece com você.”

No seu artigo sobre a “Cognição Humana”, a Bióloga Marta Relvas, com doutorado e mestrado em Psicanálise, explica que o nosso cérebro funciona processando as informações recebidas por intermédio dos órgãos dos sentidos. Depois de processar e elaborar os significados dessas informações, emite uma resposta motora ou, conforme o caso, memoriza-a para, talvez em outro momento, utilizá-la e transmitir a resposta correspondente.

Em seguida acrescenta:

– Antes de embarcar em uma viagem ao entendimento dessa evolução humana, deve-se conhecer melhor o conceito, que, segundo a Enciclopédia Britânica, “é a habilidade de se adaptar efetivamente ao ambiente, seja fazendo uma mudança em nós mesmos, ou mudando o ambiente, ou achando um novo ambiente”. Essa é uma definição inteligente, porque incorpora aprendizado (uma mudança, em nós mesmos), manufatura e abrigo (mudança do ambiente) e migração (encontrando um novo ambiente). De modo a nos adaptar efetivamente, o cérebro deve usar todas estas funções. Portanto, “inteligência não é um processo mental único, mas sim uma combinação de muitos processos mentais dirigidos à adaptação efetiva do ambiente”. (coloquei em negrito).

Aproxima-se a chegada de um novo ano em nossas vidas. Todos nós, com o nosso “sentir interior”, compomos as imagens simbólicas das representações que fazemos das “realidades exteriores”. Nessa subjetiva dinâmica de interação “existencial” e “emocional”, já está provado pelas neurociências que as nossas “emoções” podem gerar “sentimentos”, e não apenas as realidades em si. Sentindo-me emocionado neste meu agora, termino a última mensagem deste ano e desejo para todos um “Feliz 2023“.

Notas:
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2. Havendo neste espaço virtual qualquer citação que seja contrária à vontade dos seus autores, será imediatamente retirada após o recebimento de solicitação em “comentários”, no final desta mensagem ou para edsonbsb@uol.com.br .

Muita paz e harmonia espiritual para todos.

(338) Sentindo a nossa “realidade psíquica”, como fonte de autoconhecimento.

EXISTEM MOMENTOS NA VIDA DA GENTE, EM QUE AS PALAVRAS PERDEM O SENTIDO OU PARECEM INÚTEIS, E, POR MAIS QUE A GENTE PENSE NUMA FORMA DE EMPREGÁ-LAS ELAS PARECEM NÃO SERVIR. ENTÃO A GENTE NÃO DIZ, APENAS SENTE.

São palavras do criador da psicanálise, o neurologista e psiquiatra austríaco Sigmund Freud (1856-1939). Pergunto: Como devemos entender essa dificuldade no nosso modo de “transmitir” o que desejamos, seja pela fala ou pela escrita? São muitas as respostas para essa pergunta. Entendo que as origens desses “apagões” devem ser subjetivas experiências sensoriais que, em sua maioria, representam estímulos interiores de “necessidades de atenção”, recebidos do nosso inconsciente. Nesse sentido, ensina o psicólogo e professor Fernando Gonzáles Rey( (1949-2018) que, em todas as nossas ações, nós somos naturalmente influenciados por uma interação do simbólico com o emocional. Na comunicação pela escrita, por ser uma linguagem formal sujeita às regras gramaticais, nem sempre conseguimos nos expressar com facilidade.

Complemento com estas explicações da doutora Michele Müller, especialista em Neurociências e Neuropsicologia Educacional, no seu artigo sobre a “Construção Abstrata na Mente”, publicadas nas edições 161 e 162 da Revista PSIQUE, ano 2019, da Editora Escala (numerei):

1. A linguagem vai além do campo cognitivo. Ela auxilia na identificação de sensações e na construção da inteligência emocional.

2. A linguagem abstrata permite enxergarmos coisas que antes se encontravam em um ponto cego da percepção. Como se fossem lanternas da mente, as palavras expandem os limites do nosso mundo interno, como defendeu o filósofo alemão Wittgenstein. Um mundo que é inteiramente guiado pelas emoções e sentimentos – das grandes conquistas às piores decisões.

3. A linguagem cumpre um papel fundamental não apenas na comunicação, como na interpretação do ambiente e na identificação das próprias emoções, o que possibilita a formulação consciente de respostas mais apropriadas. Se, por um lado, a ampliação do vocabulário permite a ampliação da própria consciência e modifica a forma como as pessoas processam suas experiências no mundo, por outro são as próprias experiências que dão sentindo à palavra, em uma relação recíproca e interdependente.

Sobre o tema central desta mensagem, peço a sua atenção para este ensinamento da professora Ana Suy Sesarino Kuss, que é mestra em Psicologia, especialista em Psicologia Clínica, com doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise, no seu artigo “A gente ama uma verdade”, publicada na edição 115 da Revista Humanitas, da Editora Escala:

– De acordo com Freud, a realidade que é determinante na vida humana é a realidade psíquica. Assim, na vida humana importa menos o que aconteceu e mais como nós interpretamos aquilo que aconteceu.

REGISTROS HISTÓRICOS:

1. Em 1895, no seu “Projeto para uma psicologia científica“, foi a primeira vez Freud se referiu a duas realidades: a externa e a do pensamento.

2. Somente na edição de 1909 da sua conhecida obra “A interpretação dos sonhos“, passou a conceber a “realidade psíquica” como sendo as realidades do inconsciente, das fantasias e a dos nossos desejos.

Com seu estilo didático, essencialmente detalhista, Freud esclarece na sua conhecida obra “A interpretação dos sonhos“, vol. V (1900-1901), p. 637, publicado no Brasil pela Editora Imago:

– É essencial abandonar a supervalorização da propriedade do estar consciente para que se torne possível formar uma opinião correta da origem do psíquico. Nas palavras de Lipps [1897, 146 e segs.], deve-se pressupor que o inconsciente é a base geral da vida psíquica. O inconsciente é a esfera mais ampla, que inclui em si a esfera menor do consciente. Tudo o que é consciente tem um estágio preliminar inconsciente, ao passo que aquilo que é inconsciente pode permanecer nesse estágio e, não obstante, reclamar que lhe seja atribuído o valor pleno de um processo psíquico. O inconsciente é a verdadeira realidade psíquica; em sua natureza mais íntima, ele nos é tão desconhecido quanto a realidade do mundo externo, e é tão incompletamente apresentado pelos dados da consciência quanto o é o mundo externo pelas comunicações de nossos órgãos sensoriais.

RESUMINDO:

Toda a teoria psicanalítica está fundamentada no reconhecimento de que, em sua maioria, os processos psíquicos são inconscientes.

Termino esta mensagem convencido de que, sendo a Vida um fluente ciclo permanente de transformações, pela nossa trajetória existencial todos nós devemos priorizar a escuta do nosso sentir interior. A linguagem do inconsciente é simbólica. Nem sempre encontramos palavras para conhecer a essência dos seus significados.

Espero você no nosso próximo encontro.

Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

(337) Sentindo a singularidade existencial da subjetividade humana.

SEM CONSCIÊNCIA – ISTO É, SEM UMA MENTE DOTADA DE SUBJETIVIDADE –, VOCÊ NÃO TEM COMO SABER QUE EXISTE, QUANTO MAIS SABER QUE VOCÊ É E O QUE PENSA.

São palavras do neurocientista António Damásio, no seu livro “E o cérebro criou o homem“, lançado no Brasil pela Editora Companhia Das Letras, com tradução de Laura Teixeira da Motta. Que maravilha de significar a importância da subjetividade humana, com a nossa capacidade de “sentir” e de “voltar-se para si mesmo.” Em todas as buscas interiores de “autoconhecimento”, a linguagem simbólica dos nossos “sentimentos” e “emoções” é personalíssima porque somos seres únicos, individualizados em todos os sentidos do nosso “existir” e do nosso “viver”. Complementando e peço a sua atenção para estas considerações da Psicóloga Ana Mercês Maria Bock, que possui mestrado e doutorado em Psicologia Social pela PUC-SP, reproduzidas do seu livro “Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em psicologia“, publicação da Editora Cortez:

– (…) falar do fenômeno psicológico é obrigatoriamente falar da sociedade. Falar da subjetividade humana é falar da objetividade em que vivem os homens. A compreensão do “mundo interno” exige a compreensão do “mundo externo”, pois são dois aspectos de um mesmo movimento, de um processo no qual o homem atua e constrói/modifica o mundo e este, por sua vez, propicia os elementos para a constituição psicológica do homem.

Palavras de sabedoria > A compreensão do “mundo interno” exige a compreensão do “mundo externo”. Concordo, porque nós vivenciamos uma permanente coexistência de simultâneas experiências de realidades, compondo o mosaico de um mundo que, “para nós”, espelham as imagens objetivas das nossas percepções, com as do nosso mundo interior que, “em nós”, modelam a essência simbólica dos significados subjetivos de todas as nossas interações “existenciais”.

Sob uma perspectiva histórico social do desenvolvimento humano, considero proveitosas todas as práticas de “autoconhecimento” que favoreçam o “escutar sensorial” da nossa subjetividade. Pergunto: Como devemos fazer para alcançar essa sintonia de harmonização interior? Gosto deste ensinamento do criador da Teoria da Subjetividade, o psicólogo e professor Fernando Gonzáles Rey (1949-2018), no seu bem fundamentado artigo “A saúde na trama complexa da cultura, das instituições e da subjetividade“:

– O tipo de emoções que afetam a saúde não pode se separar de sua configuração subjetiva, o que constitui processo importante de conhecimento para qualquer ação psicológica orientada à mudança, desde as psicoterapêuticas até as psicológicas, ou de ação institucional e comunitária.

Resumindo a síntese mais importante desta mensagem: Em nossas vidas todos os acontecimentos, sejam de que natureza forem, são representados pelas suas “configurações subjetivas”. Reforço com este entendimento de Elisabeth Pacherie, pesquisadora do Instituto Jean Nicod, em Paris:

– A EMOÇÃO É DETERMINADA PELA MANEIRA COMO REPRESENTAMOS A SITUAÇÃO E PELA A AVALIAÇÃO QUE DELA FAZEMOS.

Termino esta mensagem com este ensinamento do psicólogo americano Albert Ellis (1913-2007), que em 1955 desenvolveu a conhecida Terapia Racional Emotiva Comportamental (resumida com minhas palavras):

– Os acontecimentos podem motivar sentimentos que, no entanto, não são a principal causa deles. A nossa resposta emocional depende dos significados por nós, a eles atribuímos. De acordo com a teoria construtiva da Terapia Racional Emotiva Comportamental, nós podemos construir as nossas realidades de acordo com as nossas formas de pensar e preferências de escolhas.

Espero você no nosso próximo encontro.

Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

(336) Sentindo como devemos entender as necessidades de mudanças em nossas vidas. (Parte Final da 332)

A PRIMEIRA CONDIÇÃO PARA MODIFICAR A REALIDADE CONSISTE EM CONHECÊ-LA.

Com estas palavras do escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015), chegamos ao final desta série de mensagens. Destaco e merece ser rememorado o seguinte: Do primeiro encontro (mensagem 332), o reconhecimento da nossa capacidade de “criar” e “definir” significados para as nossas desejadas necessidades de mudanças. É o que acontece quando estamos conscientes dos nossos anseios de novas conquistas e vivenciando “sensações de “incompletudes”. Do segundo (mensagem 333), que de modo inconsciente podemos ser influenciados por tudo que sentimos. Do terceiro (mensagem 334), a decisão pessoal da neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel, que ao invés de usar a palavra “inconsciente” prefere “não consciente” para se referir aos processos que acontecem no cérebro além daqueles que recebendo a nossa atenção, se tornam para nós “conscientes”. Do quarto (mensagem 335), a explicação do neurocientista António Damásio sobre as subjetivas percepções significativas de estados emocionais. Por último, o entendimento do psicoterapeuta e psiquiatra alemão Fritz Perls (1893-1970), sobre o poder de modificar as realidades modeladas pelas percepções das nossas experiências de vida. A regra é simples e de fácil compreensão – Mudando o nosso “mundo interior”, percebemos as mudanças espelhadas no nosso “mundo exterior”.

O ser humano não muda as suas realidades exteriores. Temos sim, a capacidade de “significar”, para nós mesmos, como “sentimos” as nossas interações de realidades [inclusive as imaginárias]. Resumindo: Fora de nós nada mudamos, mas podemos idealizar o que desejamos e também, assim, transformar muitos dos nossos sonhos em realidades.

A essência subjetiva dos significados simbólicos das nossas necessidades de mudanças é “desperta”, em nós, pelo “inconsciente” que, segundo Sigmund Freud (1856-1930), é a nossa verdadeira “realidade psíquica”. Para ele, nem sempre o “consciente” está no comando das nossas ações e emoções. Por essa razão, nós precisamos procurar entender a motivação [principalmente inconsciente] das necessidades de mudanças em nossas vidas.

Nesta jornada para o “autoconhecimento”, peço a sua atenção para estes exemplos de “sentir” realidades subjetivas: – Sobre a percepção interior das nossas realidades, como fonte de “autoconhecimento” (mensagem 231); sobre as percepções subjetivas das nossas realidades “existenciais” e “imaginárias” (mensagem 246); sobre como podemos criar as nossas realidades durante a pandemia do coronavírus (mensagem 290); sobre o “sentir” do filósofo francês Edgar Morin, na criação de realidade subjetiva no pós-pandemia (295); sobre a modulação da percepção dos nossos sentimentos, no pós-pandemia (mensagem 296); sobre o poder de construir” os mundos das percepções do nosso existir (mensagem 308); sobre a subjetividade das nossas percepções sensoriais de “solidão” (mensagem 309); sobre como entender a percepção da nossa linguagem sensorial (mensagem 315); sobre as modelagens subjetivas de significados das nossas realidades (mensagem 322); sobre o “escutar sensorial” do nosso sentir emocional (mensagem 324); sobre a necessidade de conhecer as nossas subjetivas interações emocionais (mensagem 326) e sobre o poder de criar as nossas realidades emocionais (mensagem 328).

Pergunto:

COMO ENTENDER AS NOSSAS NECESSIDADES DE MUDANÇAS?

Entendo ser difícil existir uma única resposta para essa pergunta porque, cada um de nós, temos bem definidas as nossas subjetivas singularidades “existenciais” e “emocionais”. Apesar de não ser da minha área de estudos, tenho anotado que em 2017 foi publicada na revista Neuron, a notícia de que pesquisadores de quatro universidades americanas identificaram uma região do nosso cérebro, chamada córtex cingulado posterior, que é responsável pela quebra de nossas rotinas. Mais recente, no seu livro “A estranha ordem das coisas – As origens biológicas dos sentimentos e da cultura”, lançado no Brasil pela Editora Companhia Das Letras, com tradução de Laura Teixeira Motta), explica António Damásio:

– Em circunstâncias comuns, os sentimentos comunicam à mente, sem o uso de palavras, se a direção do processo da vida é boa ou má, em qualquer momento, no respectivo corpo. Ao fazerem isso, eles naturalmente qualificam o processo da vida como conducente ou não ao bem-estar e à prosperidade. (…) Sentimentos são experiências subjetivas do estado da vida. (…) Os sentimentos nos dizem o que precisamos saber. (…) A experiência sentida é um processo de avaliar a vida relativamente às suas perspectivas.

Termino esta série de mensagens repetindo o meu convencimento de que a mente humana controla as vivências subjetivas de todas as nossas experiências emocionais. Nesse sentido, de acordo com a doutora Michele Müller [que é pesquisadora, com especialidade em Neurociências e Neuropsicologia Educacional], “o cérebro humano é projetado para aprender e mudar com aprendizagem, mudar e aprender com a mudança”.

Espero você no nosso próximo encontro.

Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

(335) Sentindo como devemos entender as necessidades de mudanças em nossas vidas (Parte IV da 332).

Sinto que meu barco
encontrou algo grande
lá no fundo.
E nada acontece!
Nada…
Silêncio… Ondas…
Nada acontece?
Ou tudo aconteceu
e estamos tranquilos no novo.

“Oceanos”. Que bela inspiração do poeta espanhol Juan Ramón Jiménes (1881-1958), laureado com o Nobel de literatura de 1956. Assim também podem ser as “mudanças” em nossas vidas, surpreendendo-nos com a mesma sensação das águas no barco de Juan. Umas são “mudanças” conhecidas, esperadas; outras não, com suas transformações ofuscadas ou despercebidas porque nem sempre conseguimos identificar seus significados. Como acredito, as práticas de “autoconhecimento” também podem favorecer uma espécie de “revelação sensorial” das nossas subjetivas necessidades de “mudanças”. É quando, com mais possibilidades, sentimos aquela “sensação de incompletude” e conhecemos alguns dos nossos desejos ainda não realizados. Para ser alcançado esse nosso interior despertar de necessidades de “mudanças”, temos que estar em sintonia de conexão com a nossa própria subjetividade. Com o nosso “eu interno”, expressão muito usada por Carl Jung (1875-1961).

Em nossas vidas tudo é cíclico, tem um sentido de ser, se manifesta no seu tempo, mas nem sempre encontramos a nossa convincente explicação de causalidades. Assim são os chamados “mistérios da vida”, que desafiam os nossos desejos de escolhas. Todos nós precisamos projetar a nossa mente em buscas de significados para os nossos “sentimentos” e “emoções”. Precisamos conhecer, sentir e, principalmente, simbolizar as nossas realidades. No seu interessante artigo, “O sintoma como símbolo”, explica a psicóloga Lígia Diniz, que possui pós-graduação em Psicologia Junguiana (Revista PSIQUE, edição 151, julho de 2018, da Editora Escala):

– Há dentro de nós um movimento para que sejamos nós mesmos, para que obtenhamos o máximo possível de nossa força vital, para que vivamos a nossa inteireza, e que o processo terapêutico através da arte poderá dinamizar essa tendência. Os símbolos são parte do processo de autoconhecimento e transformação, vão onde as palavras não pisam, alcançam dimensões que o conhecimento racional não pode atingir. Conectam a essência de cada ser, atuando diretamente no eixo ego-Self, isto é, a conexão entre o complexo que comanda a consciência – o ego – e a psique como totalidade – o Self, apontando o rumo que a energia psíquica segue.

COMPLEMENTO:

Existem contemplações em nossas vivências exteriores, que são representadas por significativas “percepções” dos nossos estados de envolvimentos emocionais. Vejam este exemplo de “sentir” com a sensibilidade da alma, assim explicado pelo neurocientista António Damásio:

– QUANDO OLHAMOS PARA O MAR, NÃO VEMOS APENAS O AZUL DO MAR, SENTIMOS QUE ESTAMOS A VIVER ESSE MOMENTO DE PERCEPÇÃO.

Damásio explica no seu livro “A estranha ordem das coisas – As origens biológicas dos sentimentos e da cultura”, lançado no Brasil pela Editora Companhia das letras, com tradução de Laura Teixeira Motta:

– É fascinante que um simples truque – a subjetividade, que poderíamos também chamar de truque da propriedade – possa transformar o esforço da sua mente para produzir imagens em material significativo e orientador, ou que, pelo simples fato de estar ausente, faça todo o empreendimento da mente parecer inútil. É evidente que, se quisermos entender como a consciência é feita, precisamos entender como é feita a subjetividade.
A subjetividade não é obviamente uma coisa, mas um processo, que depende de dois ingredientes cruciais: a criação de uma perspectiva para as imagens mentais e o acompanhamento das imagens por sentimentos. (…) Uma das principais contribuições para a construção da subjetividade é dada pela operação dos portais sensitivos, nos quais encontramos os órgãos responsáveis por gerar imagens do mundo externo. Os primeiros estágios de qualquer percepção sensorial dependem de um portal sensitivo.

Para você pensar:

O psiquiatra e psicoterapeuta alemão Fritz Perls (1893-1970) defendia que as nossas sensações de realidades são definidas pelas nossas próprias experiências, porque nós somos responsáveis por elas podendo, inclusive, modificá-las. As nossas realidades são criadas por nós, pela percepção das nossas experiências de vida.

Termino esta mensagem com este conhecido “sentir” de Perls:

– – Seja como você é. De maneira que possa ver quem és. Quem és e como és. Deixa por um momento o que deves fazer e descubra o que realmente fazes. Arrisque um pouco, se puderes. Sinta seus próprios sentimentos. Diga suas próprias palavras. Pense seus próprios pensamentos. Seja seu próprio ser. Descubra. Deixe que o plano pra você surja dentro de você.

No nosso dia, desejo para todos os pais novos horizontes de “Sabedoria de Viver”, pelas águas do oceano do poeta Juan.

Continua no nosso próximo encontro. Espero você.

Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

(334) Sentindo como devemos entender as necessidades de mudanças em nossas vidas. (Parte III da 332)

“TU SENTES O QUE PESSOALMENTE SEJAS CAPAZ DE EXPERIMENTAR, PORQUE ESSE SERIA O ALCANCE DE TUA PERCEPÇÃO, MAS TAMBÉM TU SENTES A SÍNTESE DE TODOS OS SENTIMENTOS HUMANOS, POIS, A CADA MOMENTO SÃO PRODUZIDAS TODAS AS VARIEDADES DE SENTIMENTOS, CUJO SOMATÓRIO RESULTA NA “ALMA DO MUNDO”.

“QUANDO TU SENTES O QUE SENTES, TENTAS TE APROPRIAR DO SENTIMENTO QUE SENTES, MAS EM ALGUNS CASOS É A TUA ALMA QUE É APROPRIADA POR UM SENTIMENTO MAIOR QUE ELA, MAS QUE PRECISA SER SENTIDO, PORQUE, DO PONTO DE VISTA CÓSMICO, O REINO INTEIRO É UMA ÚNICA ENTIDADE EXISTENCIAL.”

São palavras do astrólogo Oscar Quiroga, reproduzidas da introdução do seu horoscopo publicado na edição de 25/06/2022 do jornal Correio Braziliense. Nesta sua trigésima nona participação na nossa caminhada para o “autoconhecimento”, mostra-nos, com a peculiar subjetividade das suas previsões astrológicas, que não “sentimos” apenas as imagens simbólicas das nossas percepções sensoriais mas, também, as da essência de todos os sentimentos humanos, compondo, assim, “um somatório da “ALMA DO MUNDO”. O mesmo, em síntese, tentaria concluir com estas minhas palavras: – do nosso “MUNDO INTERIOR”, matizado pelos nossos sentimentos com a essência de transcendência espiritual superior de todo o Universo.

Na minha primeira leitura desse “sentir” de Quiroga, veio-me à mente esta resposta da bióloga e neurocientista Suzana Herculano-Houzel, ao ser perguntada sobre como a Ciência explica o inconsciente:

– Prefiro falar do “não consciente”, ou seja, todos os processos que acontecem no cérebro além daquele único, a cada momento, que recebe o foco da atenção e se torna, assim, “consciente”. Pensando desta forma me parece natural compreendermos que a cada instante há muito mais acontecendo em nossas mentes do que conseguimos ter acesso para formular em palavras, compreender ou mesmo acompanhar. Esses processos não-conscientes incluem nossa maneira, a essa altura automática, de compreender o mundo baseada em nossa biologia, mas também em todas as nossas experiências anteriores de vida.

Essa abertura da Doutora Suzana é, no meu entender, implicitamente sugestiva de uma importante recomendação de “descoberta interior”, explicada pela necessidade de ficarmos atentos para todos os recebimentos de percepções sensoriais (sejam de que natureza forem) porque, nem sempre, o nosso “escutar consciente” está totalmente no comando das nossas ações, sentimentos, e emoções. De acordo com a psicanalista Luciana Saddi, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise (SP) e mestre em Psicologia Clínica da PUC-SP, “a consciência é um sistema ligado à percepção tanto de estímulos vindos de dentro do organismo, como dos provenientes do mundo externo”. Nesse sentido, merecem muita atenção as nossas “intuições”. Esclarece Michele Müller, jornalista e pesquisadora com especialidade em Neurociências e Neuropsicologia Educacional, no seu consistente e bem fundamentado artigo sobre “Comunicação Energética” (Revista PSIQUE, edição 141, da Editora Escala):

– A intuição nos permite entrar em contato com sentimentos e percepções geralmente escondidos sob o produto desordenado do pensamento. Ao possibilitar o acesso a esses processos subconscientes, entrega um cenário mais rico e confiável nas tomadas de decisões. Oferece modos mais criativos e menos automáticos de reagir às situações e torna as interações sociais mais gratificantes. Hoje a neurociência reconhece o cérebro como parte de um sistema e, ao invés de contrariar, está conseguindo compreender a sabedoria por trás da antiga e universal relação entre o coração e a inteligência intuitiva. E a simbologia que usamos para representar o amor e o afeto faz mais sentido que nunca.

Estou plenamente convencido de que em nossas incursões interiores de buscas de “autoconhecimento”, nós temos a capacidade de “criar” e “definir” para nós mesmos significados para as nossas subjetivas interações de realidades existenciais. Mas precisamos saber diferenciar “experiência” de “vivência”. Ensina a filósofa Terezinha Azeredo Rios, no seu livro “Vivemos mais! Vivemos bem? – Por uma Vida Plena”, publicação da Editora Papirus 7 Mares, escrito em coautoria com Mario Sergio Cortella:

– Um indivíduo com sete anos tem menos experiência do que o que tem 17″. Aí eu me pergunto: “Será mesmo? Porque na experiência, trabalha-se com a ideia de intensidade. É por esta razão que se pode dizer: “Olhe, essa situação durou só uma semana, mas o que se experimentou ali teve um significado muito marcante, como se tivesse durado mais tempo”. A relação entre vivência e experiência tem sido apresentada de formas diferentes por vários pensadores. Jorge Larrosa tem explorado a ideia de experiência de um modo que me parece muito rico. Recorrendo à história do significado que se tem dado à experiência desde a filosofia clássica, em que a experiência foi entendida como um modo de conhecimento inferior ao conhecimento racional, intelectual, passando por outras épocas, até nossos dias, Larrosa afirma que “a experiência é o que se passa comigo e que, assim, me forma ou me transforma, me constitui, me faz como sou, marca a minha maneira de ser, configura minha pessoa e minha personalidade”. A experiência está ligada ao sentido que se dá às vivências.

Termino esta mensagem com este “sentir” de Dalai Lama XIV, reproduzido do seu livro “A Arte da Felicidade”:

– ATRAVÉS DA MOBILIZAÇÃO DOS PENSAMENTOS E DA PRÁTICA DE NOVOS PADRÕES DE PENSAMENTO, PODEMOS REMODELAR NOSSOS NEURÔNIOS E MUDAR A MANEIRA COMO NOSSA MENTE TRABALHA. A FELICIDADE É DETERMINADA MUITO MAIS PELO ESTADO MENTAL DO QUE POR EVENTOS EXTERNOS.

Continua no nosso próximo encontro.

Notas:
1. A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link para os efeitos da Lei n. 9610/68, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
2. Havendo neste espaço virtual qualquer citação que seja contrária à vontade dos seus autores, será imediatamente retirada após o recebimento de solicitação em “comentários”, no final desta mensagem ou para edsonbsb@uol.com.br .

Muita paz e harmonia espiritual para todos.

(333) Sentindo como devemos entender as necessidades de mudanças em nossas vidas. (Parte II da 332)

“TEMOS DE NOS TORNAR A MUDANÇA QUE QUEREMOS VER NO MUNDO.”

São palavras do ativista indiano, Mahatma Gandhi (1869-1948).
Quando recebi por intuição o tema desta mensagem, veio-me à mente este conhecido “sentir” de Sócrates (469-399 a.C), encontrado nos diálogos platônicos: – “uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida”. Reconhecido como sendo a essência da “Apologia de Sócrates”, obra literária escrita por Platão (c. 427-347 a.C), entendo que subjetivamente também se refere ao reconhecimento de Sócrates como defensor do “autoconhecimento”, que se preocupava com “a razão da nossa existência” e acreditava na “imortalidade da alma”.

Se a vida é um contínuo processo de transformações. Se em nós muitas acontecem sem uma consciente necessidade de “mudanças”. Se temos condições de favorecer para nós mesmos as “mudanças” que desejamos para o mundo. Se o conhecimento também pode ser definido pelos significados das nossas percepções sensoriais. Se de modo inconsciente podemos ser influenciados por tudo que sentimos. Pergunto, para você pensar:

– COMO DEVEMOS “ENTENDER” A SUBJETIVIDADE DAS NOSSAS NECESSIDADES DE MUDANÇAS?

No seu livro “Sentimentos, valores e espiritualidade – Um caminho junguiano para o desenvolvimento espiritual”, publicação da Editora Vozes, ensina a doutora Daniela Benzecry (por mim selecionado e numerado):
1. Os sentimentos e as emoções pesam nas nossas escolhas e, por conseguinte, em nossos comportamentos e no modo como nos adaptamos à realidade.
2. Para Jung “o sentimento é, primeiramente, um processo de todo subjetivo que pode independer, sob todos os aspectos, do estímulo exterior, ainda que se ajuste a cada sensação” (JUNG, OC, vol. 6, § 896). Como algo subjetivo, uma importante característica da “função sentimento” revela aspectos do mundo íntimo da pessoa.

A subjetiva interação com as nossas realidades interiores e exteriores foi assim explicada pelo médico e psicoterapeuta junguiano Carlos São Paulo, na sua análise da novela “A Morte de Ivan Ilich”, do escritor russo Liev Tolstói (Revista PSIQUE, ed. 150, de junho de 2018, publicação da Editora Escala):

– Para a Psicologia Analítica, “alma” é um conceito que define o modo como o EU se relaciona como o mundo interior, enquanto “persona” determina o modo com que esse mesmo EU se relaciona com o mundo exterior.
O homem, em seu desenvolvimento, constrói um mundo interior que fala a linguagem dos símbolos e, por meio deles, relaciona-se com a natureza que nos habita e às suas exigências. Como o mundo externo que compartilhamos faz-nos reféns da razão e nos impede de ouvir os “murmúrios” da natureza que nos torna singular, muitos acabam seguindo o ritmo frenético dos “gritos” produzidos nesse mundo e se conduzem como manadas interessadas em realizar seus desejos ambiciosos de chegar ao sucesso em detrimento da alma.

COMPLEMENTO:

– Muitos dos nossos desejos de “mudanças” podem naturalmente, por meio de uma silenciosa prática permanente de “voltar-se para si mesmo”, favorecer o “despertar interior” de muitas das nossas percepções sensórias de necessidades inconscientes de completudes. Esse “sentir” também pode ser assim explicado pelo filósofo e poeta Mark Nepo, no seu livro “A Prática Infinita – Uma jornada através da Alma”: “O despertar não é um objetivo, mas uma canção que o coração segue entoando, assim como os pássaros cantam ao primeiro raiar do dia.”

Continua no nosso próximo encontro.

Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

(332) Sentindo como devemos entender as necessidades de mudanças em nossas vidas. (Parte I)

“O QUE MUDA NA MUDANÇA,
SE TUDO EM VOLTA É UMA DANÇA
NO TRAJETO DA ESPERANÇA,
JUNTO AO QUE NUNCA SE ALCANÇA?

Com essa pergunta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) eternizou o seu poema “Mudança”. Uma bela composição subjetiva de significados de palavras escolhidas para poetizar as sensações de “mudanças” em nossas vidas. Heráclito, o pensador do “tudo flui”, dizia que “nada é permanente, exceto a mudança”. O poeta norte-americano Charles Olson (1910-1970), afirmava com insistência: “O que não muda é o nosso desejo de mudança.” Drummond parece querer brincar com a “esperança” dos seus anseios de “mudanças”, envolvendo-nos com uma inteligente reflexão que nos encanta com o sublime contagiante de suas subjetivas imersões poéticas.

Todos nós temos a capacidade de “criar” e “definir” significados para as nossas desejadas necessidades de “mudanças”. Explica o médico psiquiatra e analista junguiano, Carlos Byngton, no seu artigo “A inveja, como função psíquica estruturante”, assim por mim resumido:

– Nenhuma função psíquica e nenhuma vivência é desprovida de significado. Podemos não prestar atenção no que fazemos e no que nos acontece, mas nossa memória consciente e inconsciente registram significados que contribuirão para sermos o que somos e o que seremos. Em todos nós existe o chamado Processo de Elaboração Simbólica, centro de todas as nossas atividades psicológicas. Quando a pessoa não reflete, desperdiça a vida e pára de crescer.

Pergunto:

COMO EXPLICAR AS NOSSAS INTUITIVAS NECESSIDADES DE MUDANÇAS?

Em síntese, entendo que pelo nosso fluir existencial temos, para serem despertos em nós, sentimentos de necessidades de mudanças em todos os sentidos do nosso viver.
Em sua análise literária do livro de Hermann Hesse, “Com a Maturidade Fica-se mais jovem”, publicado no Brasil pela Editora Record, ensina o médico e psicoterapeuta junguiano Carlos São Paulo:

– Inconsciente são atividades mentais, que estão conduzindo nossos atos, sem que tenhamos consciência dessas ações. No entanto, para a psicologia de C. G. Jung, há uma camada de inconsciência mais profunda, que é uma condição inata, em que todo ser humano se predispõe a realizar tudo o que é próprio da espécie. Ele denominou esse conceito de Inconsciente Coletivo. [Nele] encontramos a sabedoria dos nossos antepassados e a dos antepassados do mundo; talvez, do universo. Em todas as gerações, os temas se repetem coloridos, de acordo com as experiências do espírito do tempo. A essas unidades temáticas que compõem o Inconsciente Coletivo, Jung chamou de Arquétipos.

Complemento com estas palavras da Psicóloga Mônica Giacomini, especialista em Psicologia Hospitalar, reproduzidas do seu esclarecedor artigo “Membro Fantasma”:

– Muitos questionamentos buscam explicar as reações de um indivíduo recém-amputado diante de sua recente vivência física e emocional, pois cada um tem um modo particular de lidar com o acontecimento, ligado à estrutura psíquica anterior, ao nível da amputação e à idade em que houve a perda do membro. [..] Jung compreende arquétipo como uma função, um padrão inato de comportamento humano em uma determinada situação. O arquétipo é universalizado e a questão da individualidade é enraizada arquetipicamente. O ego necessita dos arquétipos para se desenvolver. As imagens arquetípicas são formas como os arquétipos se apresentam para o indivíduo. As imagens dos arquétipos constituem a linguagem da psique. Quando ela opera em uma situação temos o símbolo, que como o mito, pode suscitar transformações. Nesse contexto, o papel do analista é levar a essência das imagens ao campo terapêutico, para que o indivíduo chegue, então, ao símbolo. […] Os arquétipos não são bons ou ruins. São neutros. Todavia, são vividos positiva ou negativamente. Isto dependerá do meio e das pessoas que estiverem sob sua influência.

Termino a primeira parte desta mensagem, com este “sentir” do filósofo estoico Epicteto:

O SER HUMANO NÃO É AFETADO PELAS COISAS EM SI, MAS SIM PELO MODO COMO AS PERCEBE.

Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

(331) Sentindo a necessidade de conhecer e significar no seu tempo.

“PARA O INCONSCIENTE NÃO HÁ NOÇÃO DE TEMPO OU REALIDADE. O DESEJADO É VIVIDO MENTALMENTE E NO MOMENTO EM QUE ESTAMOS “SONHANDO” COM ISSO, A IMAGEM É RECONHECIDA PELA MENTE COMO UMA VIVÊNCIA.”

São palavras do psicanalista Armando Colagnese, no seu artigo “Quem já não teve um déjà-vu?”, publicado em agosto de 2007 na edição n. 20 da Revista PSIQUE, da Editora Escala. Dele destaco esta parte da sua explicação, por mim assim resumida: Para a Psicanálise o fenômeno “já ter visto” está intimamente ligado aos nossos desejos inconscientes que se manifestam e parecem muito reais. É quando temos a impressão de ter estado em algum lugar ou participado de situações que nos parecem familiares.

Em uma perspectiva neurocientífica existem estudos que consideram ser a sensação de déjá-vu um mau funcionamento do cérebro na classificação de novas informações (memória episódica). Para esses pesquisadores, os neurônios localizados no hipotálamo traçam um mapa mental de novos lugares e experiências que são armazenadas para o futuro. Quando essas experiências começam a ficar parecidas, esses mapas geram a sensação de um determinado evento já ter sido vivido por nós.

A sensação de perpetuação do reviver imagens modeladas pelo nosso “inconsciente”, é “atemporal”. Sobre o tempo na Psicanálise, explica a Psicóloga Lucyelle Jane Bigonha Costa no seu interessante artigo, “Seríamos imortais?”(Revista PSIQUE, ed. 17, da Editora Escala):

– Já se sabe que nem sempre a Psicanálise se dedicou a estudar especificamente a questão do tempo. Tratou-se logo de pensar qual é a temporalidade do sistema inconsciente, que apresenta um tempo psíquico único, o chamado nachträglich, a posteriori.
Desta forma, psicanaliticamente falando, o homem se coloca num mundo e atua nele tendo por referência uma noção de tempo que difere da reconhecida pela sua organização psíquica consciente. Neste sentido, Poulichet (1996), dirá que vivemos de acordo com dois tempos, um que ordena os acontecimentos existenciais na temporalidade – “o tempo que passa” – e outro, o dos processos inconscientes, no qual os acontecimentos psíquicos ficam “na instância daquilo que não cessa”. Por não cessar deve-se entender que os “acontecimentos não acabam, que não têm termo e por isso não se tornam passado”, logo o “tempo que não passa”. (p.34).

Durante a pandemia da Covid-19 todos nós conhecemos esse “tempo que não passa”, nominado de “Suspensos” pela doutora Ana Maria Haddad Baptista (mensagem 302). Pergunto:

AFINAL, O QUE É O TEMPO?

1) Influenciado pela filosofia agostiniana, para Albert Einstein (1879-1955) “a distinção entre passado, presente e futuro é só uma ilusão, ainda que persistente”.

2) No seu bem fundamentado artigo “Breve reflexão sobre o tempo”, ensina Monica Aiub, doutora em Filosofia pela PUC-SP, de quem sou seguidor (Revista Humanitas, ed. 148, da Editora Escala):

– Na Antiguidade, o tempo, considerado como parte mensurável do movimento, estava relacionado, de um lado, à “imagem móvel da eternidade”, ou seja, na mudança observável da natureza no tempo estaria revelada a imutabilidade do eterno, conforme descreve Platão no diálogo Timeu (37d-39d); de outro, à mensuração do movimento entre o antes e o depois, como propõe Aristóteles em Física (IV,II;219b1), o tempo como sucessão. Cronos é o tempo da natureza: das estações do ano; do amanhecer ao anoitecer; do nascer, envelhecer e morrer… a mensuração cronológica entre o antes e o depois.

Como Cronos a tudo devora, não existem passado e futuro, somente o presente existe. O passado já foi, o futuro ainda não é. E o presente… já deixou de ser neste exato instante. Mas Cronos não é a única noção de tempo para os gregos. Entre os estoicos há outras definições: Kairós é o tempo oportuno, o tempo da decisão, que exige o amadurecimento, a reflexão; Aion é o tempo do instante a partir do qual o passado e futuro jorram (DELEUZE, 2006). Se Cronos é definido causalmente, isto é, o que é mensurável entre o antes e o depois, Aion quebra a causalidade quando se desloca incessantemente, alterando os significados do passado e do futuro que jorram do instante presente apontando possibilidades. É o tempo existencial.

COMO PENSAR O TEMPO?

Ensina o historiador alemão do pós-guerra, Reinhart Koselleck, no seu livro “Passado Futuro”, Rio de Janeiro: Contraponto, Ed. PUC-Rio, 2006:

– Quando o historiador mergulha no passado, ultrapassando suas próprias vivências e recordações, conduzido por perguntas, mas também por desejos, esperanças e inquietudes, ele se confronta primeiramente com vestígios, que se conservaram até hoje, e que em maior ou menor número chegaram até nós.

Para Carla Longhi, doutora em História Social pela USP e pós-doutora em Comunicação Social pela Universidad Complutense de Madrid, Koselleck está sugerindo que devemos pensar o tempo na contínua articulação entre passado, presente e futuro. Isto porque “o passado carrega sentidos e saberes que podem contribuir com a experiência presente; o presente provoca inquietudes que levam à releitura do passado; já a projeção do futuro norteia a construção de projetos, potencializando ações do presente.

O que motivou esta mensagem foi o meu convencimento de que pelo fluir da “passagem ilusória do tempo” nós devemos “significar” as nossas experiências de vida (mesmo as que já estejam subjetivamente registradas na “atemporalidade” do nosso inconsciente).

Tudo “em nós” e “para nós” está relacionado a um permanente nexo de “causalidades sensoriais”. Mas não podemos esquecer que a simbólica a linguagem do inconsciente pode ser reveladora de muitas das nossas (ainda desconhecidas) necessidades interiores de melhorias em todos os sentidos por meio de um individualizado processo contínuo de evolução existencial, com essência de “espiritualidade superior”. Talvez seja por isso que ao ser perguntado sobre o que podemos fazer para melhorar o nosso cérebro, o médico Paulo Niemeyer Filho (merecidamente empossado na Academia Brasileira de Letras na última sexta-feira deste mês), respondeu: “Você tem de tratar do espírito. Precisa estar feliz, de bem com a vida, e fazer exercício”.

Termino este nosso encontro com este “sentir” do nosso poeta Guimarães Rosa, sobre o “inconsciente
atemporal”:

TEM HORAS ANTIGAS QUE FICAM MUITO MAIS PERTO DA GENTE DO QUE OUTRAS DE RECENTE DATA.

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(330) Sentindo como nos envolver com o “BELO” da nossa “Sensibilidade da Alma”.

“O INEXPLICÁVEL NÃO PRECISA SER EXPLICADO, A NÃO SER QUE SUA ALMA TENHA ESSA ESTRANHA INCLINAÇÃO A PRETENDER QUE TUDO TENHA EXPLICAÇÃO. HÁ COISAS QUE PRECISAM SER SENTIDAS, E NADA ALÉM DISSO. ESCOLHAS.”

São palavras do astrólogo Oscar Quiroga, publicadas no seu horóscopo do dia 21 deste mês. Um sugestivo convite para estimular a nossa subjetiva capacidade de introspecção por meio de um natural “voltar-se para si mesmos”, em busca de significados para as nossas necessidades interiores de interações existenciais. Nele, suas previsões foram antecedidas por esta introdução que foi por ele nominada de “Construir a ponte”:

– Estamos todos muito voltados à experiência concreta, porque a sentimos mais real do que a experiência subjetiva interior, porém, a riqueza que pressentimos, e que pouco realizamos, se encontra toda na abstração de nossas almas, não encontrando esta, ainda, uma via de realização. Como é que este contraste vai ser resolvido? Existimos para construir uma ponte efetiva entre as vidas interior e exterior, não há nada mais importante do que isso na existência humana.

Concordo com Quiroga porque, em muitos de nós, existe uma tendência de querer explicar “tudo” (até o aparente inexplicável). É como se nesse “tudo”, independente da sua natureza, pudéssemos encontrar o que ainda precisamos “conhecer” e “aprender”. Não é assim. O que é nosso só nos pertence, está em nós para ser desperto pelo ciclo do nosso “existir” e do nosso “viver”. Este é o principio da nossa evolução porque, como acredito, tudo tem o seu tempo determinado para acontecer (em nós, ou para nós).

Esse tema me fascina e já enriqueceu vários dos nossos encontros. Recordo que sobre “as imagens de um olhar para dentro de nós”, comecei com este meu “sentir” (mensagem 195):

– A principal finalidade deste espaço virtual é lhe proporcionar condições que favoreçam a “percepção” de uma descoberta da sua interiorização “existencial” e “espiritual”. Como se fossem as “imagens sensoriais de um olhar” para a essência da nossa singularidade interior. Para esse objetivo ser “desperto” em você, basta a sua iniciativa de “voltar-se para si mesmo”. Tudo já está “semeado” dentro de nós, para ser buscado em nós de acordo com as nossas necessidades de melhorias e de elevação espiritual.

Cada vez mais estou convencido de que a “VIDA” é para ser sentida com a emoção da nossa “Sensibilidade da Alma”. Esse estado de percepção sensorial está ao alcance sensorial de todo ser humano, mas nem sempre definido por palavras, mas apenas ser por nós sentido com a contemplação de tudo que nos envolve pelo encanto do “BELO” em nossas vidas. Sintam este exemplo do neurocientista António Damásio:

– QUANDO OLHAMOS PARA O MAR, NÃO VEMOS APENAS O AZUL DO MAR, SENTIMOS QUE ESTAMOS A VIVER ESSE MOMENTO DE PERCEPÇÃO.

Termino este nosso reencontro, repetindo o precioso ensinamento de Quiroga que foi escolhido para iniciar esta mensagem:

– HÁ COISAS QUE PRECISAM SER SENTIDAS, E NADA ALÉM DISSO.

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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

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