Em todas as nossas interações expressamos o “sentir interior” dos nossos estados emocionais (na alegria, na tristeza, através da escrita, da fala, de um olhar e até mesmo pelo nosso silêncio). Existem pessoas que naturalmente encantam com os seus dons e com as projeções interiores da sua “Sensibilidade da Alma”. Exemplos já citados neste espaço virtual: Andrea Bocelli, tenor (059), Anna Muylaert, cineasta (123), Antonio Cicero, escritor (175), Betty Lago, atriz (043 e 062), Bibi Fereira, atriz e cantora (114), Carminho, cantora portuguesa (036), Charles Einsenstein, escritor (157), Clarice Lispector, escritora (038), Clarice Niskier, atriz (025), Denise Fraga, atriz (054), Domingos de Oliveira, ator e dramaturgo (024), Fernando Brant, compositor (051), Ferreira Gullar, escritor (132), Geraldine Chaplin, atriz (012), João Carlos Martins, pianista (075), Leonard Cohen, escritor (129), Louise Hay, escritora (124), Lya Luft, escritora (063), Marck Nepo, escritor (119); Maria Paula, atriz (031 e 102), Marjorie Estiano, atriz (026); Matheus Nachtergaele, ator (161); Miguel Nicolelis, cientista (091); Morena Nascimento, bailarina (081) e Simone de Beauvoir, escritora e filósofa (039 e 128).
Com esta mensagem vamos conhecer a “Sensibilidade da Alma” do escritor João Anzanello Corrascoza. Ele acaba de lançar o livro “Catálogo de perdas”, pela Editora Sesi-SP, selecionado pelo projeto Rumos Itaú Cultural. Da bela entrevista concedida ao jornalista Gustavo Ranieri, Editor-chefe da Revista da Cultura, publicação da Livraria Cultura, edição 117, destaco o seguinte:
01. Sobre como define a sua escrita:
Carrascoza: Talvez o que faço seja uma literatura de despertamento, de dizer: olha, é bom ver essas coisas que movem nossas existências. O que sobra da vida senão elas? (…) Tudo o que faço traz os aprendizados que tive, porque você acaba sendo escritor trazendo tudo o que você observou, tudo aquilo que você desfrutou também, aquilo que você enfrentou. (…) Por isso que a minha literatura é sempre focando no estarmos aqui, focando neste momento.
Comentário: Reproduzo estas palavras do entrevistador: (…) desde de cedo ele entendeu “o significado do estar agora. Talvez por isso ele certamente esteja a acessar o passado em sua literatura, mas a narrá-lo de forma presente.”
02. Sobre o que subjetivamente representa a perda do outro.
Carrascoza: Perder o outro é perder um pouco de si também, que desaparece e com ele vai junto uma forma de você entender sua própria existência. Você fica sem o ganho dessa presença, uma visão de você por meio de outro, uma mediação de tua existência.
03. Ao ser perguntado se estamos sempre a perder:
Carrascoza. É inevitável. O primeiro instante de sua vida é o instante que você ganhou, mas perdeu também, porque ele vai desaguar no fim. E no fim é a mesma coisa, ao mesmo tempo que se ganha se perde. A morte pode ser a perda, mas, se há crença em uma continuação, é um ganho.
Comentário: Ao conhecer o significado subjetivo desse seu “sentir interior”, lembrei deste “pensar” do poeta inglês T. S. Eliot: “o fim é de onde começamos”/”no meu início está o meu fim”. Para Carrascoza, nem sempre a morte deverá ser considerada uma “perda”, porque, para os que acreditam, a finitude humana é uma continuação e, portanto, um “ganho”. Antes de responder a primeira pergunta da entrevista, ao se referir ao fato de aos 55 anos ser pai de Maria Flor, com ano e meio de idade, Corrascoza declarou que “com ela aprendeu, novamente, que entre perdas e ganhos só uma coisa interessa: viver”. Que sabedoria de vida, para a nossa jornada de evolução espiritual! Pelo fluir do nosso ciclo de vida, o “ganho” do nosso nascer somente também deverá ser uma “perda” (com a inevitável futura e indesejada realidade da chegada da morte), quando não se aceita uma continuidade do nosso “existir”, por sucessivas dimensões infinitas de necessidades de melhorias e evolução espiritual. Gosto do “sentir” de Carrascoza, pelo qual a missão do nosso “viver” (delimitada pelo “ganho” do nascer e a “perda” do morrer) é explicada para nós que acreditamos na “imortalidade da alma”. Esse “sentir” de Carrascoza me parece estar em harmonia com esta definição de “karma” do Dicionário Collins, lançado no Brasil pela Editora Disal: – É “a soma das ações de uma pessoa em uma de suas existências sucessivas, vista como decidindo seu estado na existência seguinte.”
04. Sobre se a morte está de alguma forma tão presente em seus livros.
Carrascoza: Sim, a morte está presente pelo aspecto físico ou, às vezes, ela simbólica. E também é brusca, marcante, muito forte, porque enseja outro ciclo, destina outros rumos para aqueles que estavam vivendo. Então é também uma transformação muito vigorosa, vem realmente para a metamorfose. Isso me interessa assim como o tempo, já que a morte é o limite do tempo. Acho que quase sempre o tempo figura nos meus textos como personagem, ele está ali organizando a história com o narrador ou com personagens secundárias. E, curiosamente, narro muito no presente, porque as coisas estão acontecendo à nossa vista. Então perceba que, no mesmo momento que elas acontecem, nós já estamos perdendo-as. Esse minuto, no momento em que ele se concretiza e a gente o vive plenamente, já é perdido.
Comentário: O que mais me tocou na resposta de Carrascoza, foi ele ter considerado a morte também ser “simbólica”. Acredito que todos nós devemos elaborar para nós mesmos, o nosso significado simbólico.
05. Sobre se as “perdas” citadas no seu novo livro [Catálogo de perdas] são, de alguma forma, parte, mesmo que mínima, de sua memória.
Carrascoza: Acho que a memória, sendo acessada pela escrita ou valendo-se da escrita para buscar o tempo que foi, faz a gente viver esse tempo e o reconstruir por meio de uma sensibilidade da linguagem que a gente não tem mais acesso. Ou seja, o tempo passado é o nosso ganho, a gente o viveu, mas ele ainda faz parte de nós, da nossa existência, se a gente souber conectá-lo por meio da memória. Ao mesmo tempo, a memória é estratégica, porque ela esquece coisas para poder seguir e ao mesmo tempo ela preserva, segura e quer lembrar outras. Então ela age como um editor; o que fica e o que não fica vai constituindo a sua história, a sua escrita pessoal. (…) mas quando escrevo acesso muito o momento anterior que acabei de viver, ou memórias mais distantes minhas ou de outros, próximas ou não, que você acaba descobrindo por informações que relataram a você. Então você tenta plasmar essa história, enfim, tenta embarcar também no que o outro registrou, que está ali no espaço-tempo, e no labirinto da memória que vai ressignificando coisas também, porque ela não dá sentido sempre igual.
Comentário: Considero ser incabível qualquer tentativa de querer comentar essa bela manifestação da “Sensibilidade da Alma” de Carrascoza, sobre a memória acessada pela sua escrita. Apenas complemento sugerindo a leitura da mensagem 058, sobre o nosso respeitado neurocientista (naturalizado brasileiro), Ivan Izquierdo. Em julho deste ano ele foi agraciado pelo Prêmio Internacional para Pesquisa em Ciências da Vida, da Unesco. Foi quando, sobre o nosso processo cognitivo de memória, declarou: “O que se sabe é que ele prioriza sempre a nossa sobrevivência. Primeiro porque não podemos guardar tudo. Sem contar que é preciso esquecer para poder aprender (…).” Com esse comentário, desejo que esta mensagem permaneça na sua memória para favorecer o seu autoconhecimento “existencial” e “espiritual”.
Termino esta mensagem com este “sentir” de Carrascoza, sobre o que é ser escritor:
– Acho que é justamente trabalhar com essa ideia da memória, como uma lembrança de que o tempo todo estamos nos despedindo daqui, o tempo todo estamos indo embora. E uma vez que você está trabalhando com essa lembrança, você está evocando a grandiosidade que parece menor da vida, está mostrando quanto a nossa condição é maravilhosa, ainda que precária, mas é a única que temos.
Notas:
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3. Mensagem autorizada pelo jornalista Gustavo Ranieri, Editor-chefe da Revista da Cultura, uma publicação da Livraria Cultura.
4. Par ler a entrevista completa, acesse o portal da Livraria Cultura.
Muita paz e harmonia espiritual.